Critical Watcher

“Na chuva tão densa que cai qual cortina,
Que embaça a vista e turva o olhar.”

(Salete Gurgel)

Insistente e cheia de novidades para propor.

Vem com vontade, com aquela voz insuportavelmente agradável.

Diz coisas belas, promete-me que veio para matar a sede e purificar o pecado.

Acaricia minha janela e diz que precisa me falar.

Convenço-a de que é melhor conversarmos lá fora.

E ela aceita.

A seita: um ritual que me faz perder o controle e cair sobre aquelas gotas de prazer.

Enrosca seu corpo por todo o meu. Faz carinho nos meus cabelos molhados.

E não perde a voz. Ressoa. Segura. Vocifera.

Meu corpo está como veio ao mundo. Roupas transparentes.

E ela terrivelmente sensual. Toca-me por completo, molha meus pés e beija-me sem luto.

Água que escorre pela boca e entrelaça minha saliva.

Chuva que bate aqui sem comiseração.

Afoga-me.

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Critical Watcher
Abster-me-ia, inclusive, dos sentimentos bons e dos prazeres da vida. Apenas para evitar a dor dos maus sentimentos e não permitir que meus olhos derramassem a água do impulso; que meu corpo não precisasse mais do seu e que meus sorrisos não mais fossem tão apaixonados. Porque tudo tem seu devido fim. Ou quase tudo.
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Critical Watcher

Lembro-me bem de ouvir dizer que o amor é algo paciente, capaz de esperar e sofrer calado; que o amor não queima e não entorpece; que ele está sempre tranqüilo a ponto de deixar o mundo cair sobre tudo e todos e não reagir a nada... Isso não é verdade, sem dúvida. Não posso acreditar na estática do amor. Não posso acreditar que tudo seja uma espera sem fim. Esse amor pueril e poeta está apenas nos livros encantados e nas estórias que sempre ouvi antes de dormir. Quem ama grita impaciente pelo simples abraço, enlouquece com a distância do outro, sente o frio da ausência, movimenta-se, soluciona, enriquece a alma, aprecia...


Fico aqui imaginando o quanto foi difícil pra todos aqueles que um dia amaram loucamente e não puderam ter a oportunidade de expor tudo que sentiram. De fato, nada é pequeno ou vivido em pouca quantidade enquanto acredita-se estar amando. As doses de sentimento não são passageiras e parecem aumentar mais e mais a cada dia. De início, você chega a pensar que é apenas mais um romance em sua vida. E, já precavido do que pode acontecer, deixa apenas as coisas fluírem: sem medos, restrições ou arrependimentos.

As carícias são trocadas, as conversas passam a ser mais duradouras, os laços vão se efetivando e você começa a gostar daquele estado de plena satisfação, onde o outro te completa em tudo que precisa. Ainda assim, nada parece ter muito sentido e o velho pensamento de “deixar a vida te levar” entra em vigor. O que você sente é bom: o coração palpita com a janelinha do messenger que sobe, com a mensagem de boa noite inesperada durante a noite mais solitária de sua vida, com a ligação que você recebe pela primeira vez só pra conhecer a voz e tentar uma maior aproximação entre os amados. O sorriso começa a aparecer com mais freqüência, as músicas são sempre muito parecidas com vocês dois, a saudade sempre é mais forte do que a razão...

Quando menos espera, ocorre uma mudança irreversível em sua vida. Você já não se vê sozinho, não consegue imaginar-se tendo a vida de antes, sem o amor que enriquece e dá razões pra viver. Começa, então, a achar as coisas feitas sem o outro desinteressantes e sem valor, não mais tem paciência para cantadas fajutas, sente que sua mão só pode ser acompanhada por aquela outra, já registrada como sua. E a vida vai ganhando sentido a dois, morando juntos, sonhando com os planos futuros, embebedando-se com os encontros que ainda irão de acontecer ocasionalmente.

O passo seguinte é um conhecer os amigos do outro. Sem esperar, você se surpreende com a seriedade com que as coisas estão caminhando e adora a idéia de descobrir outras pessoas especiais em sua vida. Apaixona-se por aqueles seres tão importantes e que só fizeram o amor fortificar-se ainda mais: sorrisos ao vento, alegrias em comum, bate-papos construtivos, vidas paralelas à que você vem conhecendo... É emocionante acreditar que toda essa história foi feita por vocês dois, que vocês conseguiram em tão pouco tempo encontrar o caminho definitivo de suas vidas, que vocês já estão conformados e mais do que felizes com a idéia do “pra sempre”.

Hoje, num dia não muito convencional de eleições, escuto as buzinas e as músicas ressoantes nas ruas, transformando o ambiente e enchendo de felicidade os corações de muita gente. Mesmo assim, tentando deixar a liberdade encontrar em mim algum lugar de moradia, não consigo sentir outra coisa a não ser um turbilhão de desejos e vontades de estar com você... A distância, como eu já lhe havia dito, é apenas um pretexto encontrado por Deus para que provemos o quão belo é tudo o que sentimos. E estou encarando isso com todo o meu ser, priorizando o “nós” antes do “eu”, gastando minutos imaginando o seu sorriso inocente, encontrando graça em tudo que vejo e sinto...

De tudo que já pude escolher para minha vida, de todos os caminhos pelos quais já pude optar, de todo o brilho no olhar que já encontrei nas crianças mais puras, de toda a docilidade das flores e seus beijadores, de todo o calor latente que aqueceu meu peito nos momentos mais dolorosos, de todo ensinamento que já conquistei durante as quase duas décadas de minha vida...

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... de tudo, resta-me dizer apenas que você é a mais especial de todas, o maior sentido de tudo, o amor que eu quero ter até o fim de minha vida. E assim, permito-me dizer que te amo incondicionalmente e dou a você, por definitivo, o meu coração, cujas batidas já não mais acontecem sem você.

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Critical Watcher

Rasga a carne crua e quente
Marca o corpo sem piedade
Destrói e envenena por completo
O ser que nasce sem maldade

A têmpera de cal e cola
Apagada pela falta de cor
Quer dilúvio, quer banho
Tons vermelhos e amarelos

E a bátega que não chega
Dá ao sol que resplandece
O poder maior de liderança
A fiel injúria ao que precisa

Novos tons vermelhos e amarelos
A carne nem mais sente dor
Escorre o medo por entre as rupturas
- Vai-te junto ardor amargo!

E clama, sem medo ou piedade
Envenena-se, embebeda-se
Irriga-se de azul e verde
A mistura se apodera

A têmpera ganha vida
E embora ainda desbotada
Faz dos lagos o sangue...
Fotossintetizantes híbridos

Corre e escoa a corrente infinda
Com força e coragem sente o chão
Abraça-o e mancha-se do marrom escuro
Que faltava nas cores lancinantes

- Traga-me a escuridão!
Minhas devassas mãos não alcançam
O fel que sai dos olhos assassinos
És tu, fim de crepúsculo
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E a têmpera desmaia, extasiada de tantas cores e pouco sentimento.
Critical Watcher

Eu te pego pela mão, me aproximo de teu rosto e deixo os nossos corpos colados numa sintonia incomum. Teus olhos denunciam o desentender de minha atitude, deixando-te surpresa com tamanha agilidade e sincronia dos movimentos que ali apenas te permitem aceitar meu jogo de sedução. A minha mão corre de tuas costas ao teu pescoço trêmulo, apertando-nos com mais força e segurando com violência os teus cabelos. Meus lábios calculam um ângulo perfeito, deixando-te enxergar um sorriso cheio de pretensões. Ainda sem entender, teu corpo permanece estático e a loucura do meu faz de brinquedo-de-criança a ousadia que se apodera. Minha barba arranha teu rosto de um lado ao outro e o teu perfume se confunde com o cheiro de minha boca... A outra mão, ansiosa, te segura pela cintura e faz do teu corpo meu. Os olhos se fecham e a brincadeira de lábios que se roçam parece não mais ter fim... Sinto apenas o cheiro de bebida, prazer e você.

Critical Watcher
Foto: Vicente Freitas
_____Existem coisas que parecem ter o exímio poder de mexer com o íntimo. Algumas delas, sem esperar, tomam conta de nosso ser pela beleza e despretensão que reinam em seus atos frágeis e inocentes, repletos de pureza. Existem coisas que chegam sem mandar recado ou aviso prévio, enchendo nosso coração de surpresa e contentamento. A magnitude de seu canto, o brando bater de suas asas, a aproximação física de seres não muito particulares.
_____E como que em um jogo onde a volúpia perde sua leviandade, os traços comedidos são facilmente transformados em liberdade e segurança. A conquista de mais um passo próximo de sua beleza rara acaricia o meu âmago e desfaz a minh'alma em um sorriso infindo. Sorriso esse que faz meu ser tremer em lágrimas e purificação.
_____Existem coisas que irradiam promessas sem falas, verdades sem juras eternas, olhares sem maldade. E quando isso ocorre, a tão esperada paz do espírito se renova, transformando o âmbito de nossa vida em adoração e dança. Suas asas, até então estáticas, alçam o vôo predileto que, ainda sem medo, ganham o céu e a independência irrevogável, sob sons e líricas perfeitas.
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"Abrem-se as portas e o espetáculo começa.
De cá, vejo o brilho incessante de teus olhos.
Cada gesto, leveza, movimento, encanto.
És o pássaro que desenha no céu a tua arte,
Refugiando em mim a paz de que preciso."
(Vicente Freitas)
Critical Watcher
_____Ele só queria amar com todo o seu fervor. Jurava que um dia o vazio de seu coração seria preenchido por alguém e que a raiz da solidão obscura dos não amados sumiria eternamente de sua história... Sofreu como uma criança que chora diante da recusa da compra de um presente, acreditando um dia encontrar o amor de sua vida.
_____Mesmo provido de inteligência e bom-senso, quase nunca conseguia sentir o amor de ninguém e, quando o fazia, após semanas, a traição batia grotescamente na sua porta. A raiva o consumia, a tristeza assolava seu espírito e o desapego lutava em não partir. No fim, sempre conseguia vencer e lidar com essas situações. A partir de então, prometeu tentar amar aquelas que jurassem seu amor, mesmo sem sentir nada. Essa prática era completamente contrária aos seus princípios, cuja base estava norteada no fato de amar primeiro, namorar, fazer viagens, viver juntos numa mesma casa e depois casar.
_____Dessa vez, resolveu fazer diferente. Quis tornar o amor um sentimento secundário e não restritivo a um romance qualquer por alguém que parecia sentir algo por ele. Já não agüentava mais tentar entender o que se passava na cabeça das pessoas, pois para todas elas tal esforço não era válido; era indigno. A introspecção e o conhecimento de seu interior foram atividades conseqüentes. Leu mais, ficou uma temporada inteira longe de seus amigos, pesquisou sobre Filosofia e Artes.
_____Com Michel de Montaigne, escritor francês, aprendeu que ‘a filosofia era puramente uma poesia sofisticada’, na qual o homem é o canto lírico de cada verso. A saudade também foi motivo de descobertas. Para ele, era um bem supremo, uma necessidade concreta de existência. Sentir saudades era a prova de seu amor. E mais uma vez concordou com Montaigne na idéia de que ‘quem não toma tempo para ter sede, não sabe o que é beber’. Já se sentia preparado pra voltar ao mundo e, começou incrivelmente a ser feliz, após ter compreendido esse lado adormecido de sua mente, que inevitavelmente o fazia crer que tudo tinha seu tempo e que sua hora havia de chegar.-
______________Aprendeu a manipular o jogo do amor.
Critical Watcher
Foto: gettyimages.com
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Acreditar que eu posso tudo, ao lado daquele que me fortalece
Ter em mente que eu posso ser amanhã mais do que fui hoje
Revisar atos, conquistar sonhos, sentir o vento frio daquela manhã solitária

Beijar o beijo mais profundo
Correr a estrada quase infinita da Panamericana
Inebriar-me com as praias mais refrescantes do mundo
Beber um Romanée Countê na Ilha de Oahu

Fazer teatro e assistir aos filmes mais bem-aventurados
Desenhar todas as formas e geometrias
Nadar pelo mar profundo

Encontrar motivos pra ser e fazer feliz
Trazer paz aos corações dos que precisam de carinho
Colecionar o máximo de perfumes e fragrâncias exóticas
Sentar no gramado, a passos da Torre Eiffel

Visitar os povos africanos, os mais necessitados
Fazer da Química de meu convívio o meu eterno amor
Conhecer Le Cirque du Soleil
Aprender francês, italiano, alemão e russo
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Eu quero pouca coisa, eu sei
Mas todas que quero me são muitas
Armazenam o que minha alma não esconde
São pérolas que carregarei até o fim
Parte do que sou e do que serei
Parte de meu sagaz viver
Parte de ti
Outra de mim
Critical Watcher
Sento-me naquela poltrona defronte àqueles retratos que tiramos juntos no ano passado. Por um instante impetuoso, sinto cada cena vivida transcorrer perante meus olhos... Sob aquela situação conveniente, é involuntário o sorriso disfarçado que ilumina meu rosto, quando penso em você. Lá fora, a chuva ainda ecoante derrama em abundância a matéria-prima do produto de meu lacrimejar. A água salgada e tranqüila flui de meus olhos, irrigando minha alma e encantando meu coração. A limpeza brota no meu âmago, perpetuando cada paixão e sentido de viver ao seu lado. Na lareira, o fogo manifesta-se com resplendor, divagando cores e sombras que me fazem refletir... Não mais vejo motivos em estar parado. O meu equilíbrio sempre foi motivo de perdas interessantes e, a ausência dele, alguns poucos ganhos. Levanto-me calmamente e deixo que meu corpo dance cada som que germina de toda essa jovialidade incomum. Passos largos e rodopios desconhecidos se confundem com uma espécie de ensaio programado. Sobre o chão gélido, figuras e vestígios opacos são desenhados, transformando todo o ambiente de contemplação num palco de teatro, onde eu e unicamente eu somos o elenco e a platéia... Enfrentando as leis da física e outras mais que devo desconhecer, declaro na mecânica que me é presente a força de minha autonomia. A imunidade se apossa por completo de minha essência que, atrevidamente, me faz temeroso. Dá-me o desejo e desperta minha indiscrição. Cura minha alma e ensina-me o caminho tortuoso. Apaga meus medos e rejuvenesce outros. E é assim que vou me sentindo existente, quando tenho a certeza de que vivo e sinto o viver. É assim que, de uma maneira quase inconsciente, deixo meu espírito falar mais alto e clamar pelo êxtase que cada gota de suor representa. A dança, o som que persevera lá fora, a ablução de minhas falhas, o sublime fato de apenas pensar em você... Sentir sua voz, mesmo quando não existam sons. Acalmar o seu espírito, mesmo que a uma distância imensurável. Tocar o seu corpo, mesmo que a matéria não exista... Fazer-te sempre lembrar que transfiguras a simples imagem daquele porta-retrato tão empoeirado e cansado de minha presença a reverenciá-lo, pois dias e noites se vão e aqui estou eu, mais uma vez, ao seu encontro.
Critical Watcher
E mesmo quando criança
Vivendo um mundo quase feliz
De risos incontidos, apitos e cantos
Nós estivemos ali

Amadurecidos e com novos ideais
Caminhos trilhados e rumos diferentes
Mesmo amando-se a essa distância
Ainda assim, estivemos ali

Experiências trocadas por meio de palavras
Abraços nunca sentidos pelo vento que soprava
Beijos desejosos que despertaram ânsia
E que nunca negaram que estivemos ali

Estivemos num só corpo e num só espírito
E, ainda assim, sob um mesmo céu estrelado
Na noite escura que ousava em me impor silêncio
No correr de dias que não fluíam como eu desejava
Sim, nós também estivemos ali

Mesmo que em vidas paralelas
E não tão distantes entre si
Existe um imenso vazio
Que de mim quer fugir

E continuo amando como sempre amei
Talvez até mais do que antes
Talvez acreditando que exista um ponto de encontro
Sonhando demais e esquecendo outros planos

A saída é experimentar a resposta do tempo
Mas, meu amor, ele sempre registra marcas
Ele nem sempre é agradável com todos
Desmascara sonhos ou os faz reais

Quero eternamente ser um Clássico em sua vida
Estar entre as páginas preferidas de seu diário
Ser amado mesmo que entre outros amores
E amar mesmo que eu não deva mais

Porque eu sinto que pra sempre vou estar aqui.
Sinto estar aqui, ali, mais adiante, no horizonte... em você!
Critical Watcher
O texto de hoje é de autoria de uma pessoa muito especial pra mim. É uma das meninas mais inteligentes e sensíveis que conheço. Seu nome? Ziliane Marques... Aqui vai um texto dela. Obrigado Zi, por compartilhar de tanto talento conosco. Beijos...

“A menina que toda boneca queria ter” – pensou a bebezinha gorducha. E era mesmo verdade: as bonecas enfileiravam-se para serem cuidadas pela sua tão estimada dona; e era uma estima real, visto que, até então, a menina era filha única e morava numa rua de poucas crianças. As bonecas eram mais do que companhia – eram companheiras de boas risadas, de choros contidos, de diálogos infindos sobre os mais variados e fantasiosos assuntos que uma criança pode conseguir desenvolver.

Desde novinha a garotinha se mostrava especial, a começar pelo nome pouco comum e que, muitos anos à frente, uma fiscal de sala observou sabiamente que era um nome digno de grandes pessoas. Aprendera a ler e a escrever aos três anos de idade, mas antes disso já falava pelos cotovelos (era a menina dos ‘porquês’); e até gostava de conversar com gente grande, uma vez que seu corpo diminuto abrigava uma alma infinda, adquirida ainda no ventre da mãe; gostava também de cantarolar junto com o pai as suas canções preferidas dos beatles, num inglês ainda primitivo, durante as viagens de família.

Havia um verdadeiro ritual de cuida: que ia desde lições no quadro-negro até uma canção de ninar ou um conto de fadas, dependendo do gosto das bonequinhas (a menina respeitava a individualidade de cada uma). Quando todas já estavam dormindo, o silêncio permitia que a garotinha se dedicasse à sua lição de casa e até mesmo lê-se os livros da estante dos pais, enquanto sua mãezinha dormia. E foi assim que ela descobriu precocemente Drummond, poesia, auto-ajuda, psicanálise, religião, arquitetura medieval, a teoria introdutória do direito, mas também descobriu Hitler (numa biografia já amarelada que ela releu nas últimas férias e achou genial, embora aterrorizante), as guerras, o nazismo e tantos outros temas que a minha mente ocupada por reações químicas, descrições de processos metabólicos e conceitos físicos já não me deixa recordar.

E as bonecas iam sendo abandonadas, sem entender o porquê de serem trocadas por pedaços de papéis cheios de palavrinhas complicadas. Elas ainda tentaram, em vão, esconder os tais papéis, mas a menina era esperta e descobria o esconderijo de um por um dos livros. Até os duendes ficaram enciumados, já que a menina não mais conversava com eles, nem pelo pote de ouro ela perguntava, nem mais acenava do carro quando via os cogumelos-gigantes-de-chapéu-vermelho-e-bolinhas-brancas.

As bonecas ficaram cada vez mais esquecidas em baús embolorados. E aquele mundo de magia que permeava o quarto da menina esvaiu-se. Mas em certas manhãs chuvosas, elas merecem ser recordadas, com aquelas recordações de amizade sincera que o tempo não pode apagar, com um saudosismo redundantemente nostálgico daqueles tempos em que a magia era menos vinculada às páginas dos livros e às cenas dos filmes, em tempos que as pessoas pareciam boas e sinceras, e que a maldade ficava restrita aos livros de guerra; embora uma pitada de sarcasmo pudesse, na opinião da menina já crescida, tornar uma conversa mais interessante.

E a bebezinha gorducha nem percebia o baú fechar lentamente, seus olhos de amêndoas estavam fixos na sua menina já crescida; eram olhos de alegria por tê-la perto, por sentir seu abraço quentinho de mãe, e por perceber que ainda havia no coração dela aquele amor puro, ingênuo e despretensioso. E notou que, dentro em breve, a sua menina se tornaria uma mulher especial, embora ainda calçasse o mesmo modelo de all star de tantos anos atrás; e pensou, tendo um leve calafrio, que se fosse criada com aquele sarcasmo atual, teria se tornado igualzinha ao chuck – entendendo que as bonecas realmente estão presentes nos momentos certos. Fechou os olhos e dormiu profundamente, esperando que sua menina crescida fosse mãe, para dar a sua alegria para outra criança.

Ziliane Marques, 20/03/2008, memórias antigas numa manhã chuvosa, escrevendo ao invés de estudar biologia.

Critical Watcher
"Foto encontrada no gettyimages.com"

Pai, eu estava aqui pensando. Era tão bonito vê-lo chegando do trabalho, trazendo novidades de seus dias corridos e cheios de estresse. Era tão bom perceber a felicidade que você sentia por mais um dia cumprido. Eu costumava comparar, mesmo que só pra mim, que você era um leão. O rei de todos, capaz de lidar com primor nas situações mais necessitadas de um líder. E você também cantava aos céus. Jogava ao alto seu coração e deixava que o Pai cuidasse. Dizia que só Ele é quem pode nos dar a salvação eterna. Sua fé era muito maior que a minha, muito maior que a de meus irmãos. Sua fé chegava a impressionar os que conviviam com seu sofrimento. E era motivo de meu orgulho. Acabei me tornando uma pessoa mais fervorosa. Eu louvava, chorava enquanto ouvia a Palavra, estendia minhas mãos aos outros... Eu sentia a presença Dele ao meu lado. E isso me dava mais confiança, pois tudo que eu mais queria eu sempre estava a pedir. Eu queria você por mais um pouco de tempo. Eu queria que você regozijasse de sonhos como possuir netos, ver seus filhos passando no vestibular, morar numa fazenda, festejar o meu sucesso profissional. Ah, pai. Você hoje me faz uma falta imensurável. Na verdade, sempre fez. Mas hoje é ainda maior. Eu o tinha todo dia. Você estava aqui... E existem cenas que nunca sairão de minha mente. Lembro-me da vez que, sem forças, você encostou sua cabeça sobre meu peito. Aquilo me cortou o coração. Você nunca foi tão sensível a esse ponto, mas nesse dia foi diferente... Você deixou que eu sentisse o medo que você guardava em si. Você queria viver mais. Mas a possibilidade de morrer já era muito alta. E para que nós não sofrêssemos, você se afastava de sua família e de todos. Acho que sua intenção era que acabássemos nos distanciando de um problema que estava prestes a trazer muita dor. Poucos dias depois, você se vai. Eu, ao seu lado. Estava a sentir cada respiração ofegante que ainda você lutava pra vencer. Estava com você na vista de meus olhos. Até o último suspiro.

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- Eu me sinto tão volúvel quando penso em você. Tão volúvel. Volúvel eu fico quando penso em você. E eu grito aleluia pro alto. Consegue me ouvir, pai?

[Silêncio.]

Critical Watcher

Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol.

Nem consigo mais escrever pelo email.

Nem sei o que dizer diante de sua inteligência.

Sabe, vou te contar um segredo.

Eu te acho o máximo!

Quero vazar no seu céu; pode ser no seu inferno.

Entender que tudo tem seu tempo é minha meta.

Esperar por suas promessas que se fazem nossas.

Sorrir o sorriso daqueles filmes de romance.

Meu amor é uma coisa mais profunda que um acaso pessoal.

E as músicas que recebo me fazem refletir.

Ouço cada palavra com uma delicadeza que me surpreende.

Cada verso é motivo de lágrimas.

Purificação da alma.

Porque o amor é uma coisa mais profunda do que uma transa sensual.

Ando falando em tantos amores.

Criando tantos momentos.

Chorando noites sozinho.

Relembrando nossas gargalhadas ao vento. (Lembra-se?)

Quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno.

Quero te fazer perder medos.

Quero esquecer dos meus.

Quero encontrar um modo de dizer que só você.

Só você.

E ninguém mais com meu amor.

Divina Comédia.
Critical Watcher
Foto: Marc Romanelli
Parados estavam eles naquele banquinho da praça a admirar a velocidade com que aquelas pessoas caminhavam ali; não olhavam sequer ao lado, criando um submundo voltado pra sua própria realidade.

Entreolharam-se por um milésimo de segundo, mas preferiram manter o silêncio. Pareciam estar presos em sua própria realidade, já não havia mais ruído, já não havia mais pessoas. Só restavam pensamentos.

E mesmo diante daquele grau de contato íntimo com o seu próprio eu, cada um deles fazia dos olhares que sobrevinham uma forma de encontrar o caminho do outro. E a taciturnidade ainda reinava naqueles gestos tão delicados.

Qual será o melhor caminho a seguir? Perguntavam-se.
As dúvidas pareciam gritar em suas cabeças e ao mesmo tempo, o coração palpitava cada vez mais rápido, cada vez mais confuso.


A verdade é que eles dois tinham muitos pensamentos em comum, mas de que adiantava? O medo sempre se tornava vilão da situação e apoderava-se de qualquer tentativa de fuga ou subterfúgio. No entanto, a força dos dois veio à tona. Encararam suas dúvidas e receios com o coração valente e aberto.

Não havia mais tempo para procrastinar. Era tarde e o tempo parecia passar cada vez mais rápido. Em medidas assustadoras, eles viram suas vidas passarem em um segundo. Será que tinha valido a pena? Era hora de seguir em frente.

Ele deu sua mão pra ela, fazendo-a segurar fortemente. Ela, sorrindo, apertou ainda com mais força. Não falaram nada e, olhando para o horizonte, começaram a correr sem descanso. Nada fazia mais sentido parar ali. Incansavelmente, por dias e noites, estavam os dois contornando a mecânica falha de seus corpos.

E entre tantas pessoas que antes ali estavam, entre tantos bancos, tantas praças, eles se encontraram. Estranhos e unidos, somente pela vida.
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Ps.: E em meio a uma conversa de msn... A imaginação rola solta. Esse post tem participação especial de Monick Vasconcelos. Obrigado, menina linda! Acho que nossos pensamentos colaram. Beijos!
Critical Watcher
[Assim era ela: estatura mediana, cabelos pretos e compridos, olhos estarrecidos, boca débil, corpo quase que escultural... Usava sempre vestidos longos e esguios, denunciando sem intenção alguma as suas formas arredondadas e atraentes.]

Caminhando por aquela rua negrume, ela não cessava de chorar e de abraçar o seu próprio corpo. Por vezes, sem forças alguma pra continuar, parava em algum canto daquela vila e sentava-se. Sua tristeza era tão profunda e inquieta que até mesmo os mendigos e ladrões se comoviam diante dela. E toda noite, a lastimosa moça fazia o mesmo percurso, chorava o mesmo pranto, padecia do mesmo problema. Ela não tinha vergonha alguma em denotar seu sofrimento, ela não vigiava dentro de si o assombro que lhe passava em mente. Talvez fosse isso que a mantivesse de pé; talvez fosse a ausência do confinamento que lhe presenteasse com alguns dias a mais de vida.

Tudo era muito baseado no talvez, afinal ninguém sabia ao certo o que deveras ofendia tão amargamente aquela moça. Cada dia que se passava, a mágoa acirrava, a melancolia envaidecia, a aflição apossava. Chegava a suspirar uma dor física, expurgando em lágrimas o possível veneno que a corrompia. E ouviam-se gritos cada vez maiores, torturas cada vez mais mórbidas.

Corriam boatos na cidade sobre a personagem principal das noites escuras e silenciosas, que sempre quebrava o sossego que ali reinava. Dizia-se que, talvez, ela sofresse de alguma surdez ou algo parecido. Nunca ouvia as perguntas curiosas que os outros lhes lançavam. Nunca sequer deixou alguém tomar conhecimento da razão de seu infortúnio. E quanto mais pessoas apareciam, mais padecimento esvaía. As dúvidas não passavam de indiscrição dos outros, desfavorecendo sua expectativa de socorro ou lenimento.

E algo mudara completamente o quadro daquela situação. Agora o vento frio das madrugadas agravava o terror. O circo que se montava diariamente pra esperar pela causa dos risos insaciáveis transformava a dor em fúria. A agonia já não possuía o mesmo talento, pois o ódio lhe tomara o espaço. As lágrimas estancaram e deram lugar a olhos ressequidos e cheios de peçonha. A curiosidade foi arbitrariamente seguindo seu caminho em outra vereda, mas deixou marcas profundas na vida daquela menina que, antes, só sabia chorar.

[– Ninguém nunca me deu amparo. Nunca existiram abraços ou sorrisos que não fossem os de reprovação. A minha saída estava em meu pranto, nas poesias elegíacas que dele surgiam. E, hoje, tudo fica em mim. Toda a amargura que antes eu conseguia arremessar ao mundo, em mim fica guardada, depositada em formas desguarnecidas, em sentimentos que carregarei pro resto da vida.]

E ali mesmo deu seu último suspiro. O adeus que precisava pra poder, ao menos, lamentar em paz.

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Olá, pessoal. Antes de tudo, venho desculpar-me do afastamento que venho mantendo de meu blog. A questão é que meu tempo está cada vez mais escasso e é uma pena não poder estar desfrutando das pérolas que todos vocês criam. Gostaria, também, de mandar um forte abraço pra Jaya e pro Sr. Ziggy, que me presentearam com dois novos selos. Obrigado a vocês dois. É muito bom saber que tenho pessoas a me ajudar constantemente.







Aqui vão meus merecidos indicados:

Sede Devaneios, da Gi.

Fragmentos de Jô, da Jô.

Quintal de Cores, da Jú Caribé.

Ma Passion Rouge, da Gabriela.

Segundas Intenções, d[A] Bem Intencionada.

Parabéns. Beijos... ;)

Critical Watcher
"Me and you... What a feeling in my soul! Love burns brighter than sunshine.
It's brighter than sunshine.
[...]
I'm yours and suddenly you're mine...
I got a feeling in my soul!"
Arrepio-me com você
e sinto algo explodir dentro de mim.
Pulsações que não param.


Olhos grandes e curiosos
estão em constante nostalgia
dos momentos em que estamos juntos.


Tudo está caminhando
e eu continuo estático olhando seus passos.
Olhando seu jeito lindo de pular cada obstáculo.


Eu vejo você olhar pra trás.
Vejo você me chamar.
Me quer perto de ti.


E eu corro ao seu encontro.
Quero seguir ao seu lado.
Dividir o que é meu e seu
e transformar em "nosso".


Muitos hão de não enxergar
o que se passa dentro da gente.
Muitos queriam ser como nós
mas temem o encontro.


O difícil sempre é facil no final.
O medo sempre é superado pelo desejo.
A paixão é mais forte.
Será que é amor?
Mas poucos dizem que existe.
Poucos enxergam.
Poucos sentem.
Poucos deixam acontecer.


E não é preciso correr.
Não é preciso [des]amar.
Cada detalhe tem seu valor e seu tempo.
Cada coisa há de aparecer.
Há de nos presentear...


"Não corra tanto atrás,
o que há de ser seu às suas
mãos lhe há de vir"
(Machado de Assis)
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Olá, pessoal. Recebi três premiações de um blogueiro muito especial, o Danilo Moreira... Ele é o criador do Em linhas. Nem é preciso dizer que sou fã desse espaço. Abração, Danilo. E obrigado pelos selos. Fiquei super lisonjeado.




Indicações:

Deixa eu brincar de ser feliz, da Jaya.

Pesar de Alma, do Sr. Ziggy.

O mundo de sofisma, do Lipão.

Quintal de Cores, da Jú Caribé.

Nobre Epígono, do Nobre.

Ópio, da J.S.

Parabéns a todos.

Critical Watcher
- Ei, você consegue ouvir o que estou falando?
- Sim, pode falar.
- Eu sempre te falo e você nem me escuta.
- Você está enganado. Eu sempre presto atenção a você.
- Posso falar?
- Sim, claro.
- Eu te amo.
- Pode falar, amor.
- Eu te amo!
- Amor, por que você não fala?
- Eu estou falando. Eu te amo.
- Falando o quê?
- Eu te amo!

E todas as vezes que a frase "Eu te amo" era lançada diante daqueles dois, o vento a levava pra longe. O som chegava a ser imperceptível, inaudível... Parecia não existir.
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Recebi da J.S um selo bem legal... O blog dessa menina é muito bom. Você viaja literalmente em suas palavras. Dona de uma riqueza de detalhes, de aspirações e romances belos ou não, a J.S surpreende-nos a cada leitura. Visitem-na.Aqui vão os meus indicados:



Critical Watcher

E nem mesmo a distância é capaz de separar dois corações em sintonia.


Nem mesmo o anoitecer apaga a luz que brilha dentro daquele que tem fé.


Nem mesmo a sede é capaz de agonizar uma boca que ama.


E o terremoto não move nem uma palha dos que têm força.


O sol não consegue ofuscar o brilho que há nos olhos do que acreditam em si.


A tristeza não quebranta o sorriso dos que dele se apoderam.


O medo não ousa alcançar os que sabem gritar e impor respeito.


O silêncio perde seu valor perante aqueles que sabem clamar.


E nada, nada mesmo, modifica o que queremos sentir.


Nada apaga o que queremos guardar.


Nada destrói o sentido de viver ao seu lado...


Nada me faz fraco.


Nada me pára.


Nada é nada.


E nada mais.
Critical Watcher

Pela primeira vez, venho aqui ter uma conversa rosto a rosto com você que está me lendo. Eu sempre achei difícil lidar com a ausência do anonimato e, muitas vezes, acabei me tornando impessoal ou prolixo. Tentava fugir do que eu, tão somente eu, sentia e queria expor. Mas hoje foi diferente. Acordei, por mais uma vez, com loucos desejos, anseios, aspirações e metas a cumprir. Dessa vez, eu precisei ser personagem principal dessa história. Ao seu lado, claro.

Eu queria que você sentisse o que eu sinto. Queria que você transpirasse todas as dúvidas e os medos e me alimentasse de suas palavras, de seus olhares, de seu sorriso... Hoje eu quero dizer que sou quem sou, sem paredes pra nos separar ou florestas pra nos perder. Nossas conversas todos os dias, nosso abraço fraternal, nossas explicações sobre a química da vida, os elétrons ao redor do núcleo, a distância imensa entre eles, o vazio que os preenche.

Eu vivo num mudo cheio de bobagens, cheio de gosto de criança. Vivo o que nem me é permitido viver, ultrapassando minhas imposições e as dos que me amam. Eu consigo ser sério nos momentos em que todos estão rindo. Não consigo parar de rir quando todos estão sérios. Sou capaz de adormecer perante você, caso eu não goste do que estás a falar. Sei fazer com que você nem mesmo perceba minha ausência e, quando quero, sei irrigar de sangue arterial todo o seu corpo, levar você à anestesia total de sua matéria.

E eu me amo... Cada gesto, cada fala, cada sonho. Me amo por completo... E amo você também. Em tudo que és. Em cada suspiro. Em cada pergunta. Em cada olhar. Em cada contato. E estamos num balanço eterno. Você vai, eu venho. Você vem, eu vou... Estamos sempre na mais distante das proximidades e na mais próxima das distâncias. E entenda, meu amor, isso não é paradoxal. Você sabe disso.

Eu tenho uma novidade legal. Ontem, o Dia me contou um segredo, mas eu prefiro nem contar detalhes sobre isso. Só deixo que você saiba que ele será o responsável pelo fim desse balanço. E isso vem rápido. Bem rápido, inclusive. Além disso, ele me assegurou que traria uma bagagem cheia de coisas que vamos precisar, como maturidade, paz, amor, fé e controle. Fiquei super feliz com isso e descobri que essa coisa de relatividade temporal não está apenas nos livros de física. Está em nosso âmago, esperando pra ser descoberto.


[Amor, ok! De tudo, só uma dúvida: se o átomo, em sua plenitude, é composto quase que completamente por um imenso nada, que somos nós? Tudo que vemos, então, não passaria de projeções falsas do que somos capazes de sentir ou perceber. Como pode isso me transformar em algo tão imaterial e sensível? É... Isso me sensibiliza bastante.]

Critical Watcher

Hoje me peguei sentindo você em meus braços

Senti a sede que havia em tua boca

A felicidade que seu palpitar denunciava


Hoje me peguei te querendo mais

Sentindo tuas unhas arranharem minhas costas

Sentindo o prazer que tuas formas exalavam


Hoje me peguei cheirando o seu corpo

Arrancando tuas roupas

Atiçando os nossos sexos


Hoje eu me peguei apaixonado

Amando descontroladamente

Sentindo-me dentro de ti


Hoje eu me peguei sem controle

Sentindo a segurança de seus afagos

Sob os panos daquele quarto


Hoje eu senti que te tenho pra sempre

Que nada vai nos separar

Que o nosso amor não pára


Hoje meus olhos brilhavam

Meu medo esvaía

Meu amor transpassava

E eu mais te queria


Hoje, amanhã e sempre.

Uma longa estrada pra se viver...


[Infinita Highway!]

Critical Watcher

Há cerca de cinco bilhões de anos, o meio ambiente esteve protegido da exploração humana. Com o passar de 100 mil anos foi percebida a notável desestruturação e derrocada da “harmonia” antes existente. É fácil perceber isso quando pensamos no período de chegada dos portugueses ao Brasil. Nesse tempo, os índios usufruíam construtivamente do meio em que viviam, não destruindo dessa forma a base de suas vidas: a natureza. Em contraponto, os europeus, buscando o acúmulo de suas riquezas, destruíram abruptamente os nossos recursos naturais, acreditando, talvez, que seriam infindáveis.

A necessidade de mudança e de uma nova maneira de agir com relação aos problemas que o mundo vem enfrentando explicita-nos a idéia de que precisamos urgentemente de uma nova ética planetária: O ethos mundial. Essa postura é na verdade um consenso no qual idéias viáveis já existentes são discutidas e apontadas como soluções para a problemática terrestre. O futuro de nossos descendentes, portanto, está em nossas mãos e, o tempo para que possamos pensar sobre tais questões já está se esgotando. A avançada crise em que vivemos choca-se intensamente sobre nossas costas e, ao mesmo passo, cresce em nível cada vez mais acelerado. Como resposta a isso, a nossa adaptação ao ambiente terrestre está cada vez mais difícil.

As práticas econômicas anteriores ao capitalismo não geravam a degradação absurda e o estoque de alimentos hoje existente. Já existem algumas empresas desenvolvendo projetos na área ecológica que minimizam consideravelmente esses danos. No entanto, o capitalismo, em grande parte, não adota práticas ecologicamente corretas e não há estímulos para projetos de proteção ambiental. Os problemas da expansão capitalista, até então pouco observados, vêm tornando-se cada vez mais alarmantes.

O desenvolvimento industrial, por exemplo, propiciou-nos a mecanização e a robótica, fator este que trouxe à tona riqueza e desenvolvimento. Entretanto, se visto por outro lado, fez surgir consideráveis diferenças entre os grupos sociais, o que acarreta a má distribuição das riquezas e a desigualdade. Outro problema que emerge, é em relação às práticas absurdas lançadas sobre o meio ambiente. O homem vem cada vez mais se apoderando da biosfera, sem tomar consciência dos danos que produz: o desflorestamento, o efeito estufa, as queimadas, a poluição do ar e das águas, entre outros. As formas de trabalho, antes baseadas no esforço humano, vêm instituídas cada vez mais da maquinaria, diminuindo dessa forma, a área de participação do homem nesses setores. Isso gerou a crise do trabalho, e consequentemente o aumento do número de desempregados. Para Ricardo Antunes, professor do Departamento de Sociologia da UNICAMP, "depois da década de 1970, o mundo do trabalho vivenciou uma situação fortemente crítica, talvez a maior desde o nascimento da classe trabalhadora e do próprio movimento operário inglês."

O propósito das teorias sustentáveis encaixa-se precisamente num contexto de análise e restauração do âmbito sócio-ambiental. De forma geral, é um processo político-participativo que integra as sustentabilidades econômica, ambiental e cultural, tendo em vista o alcance e a manutenção da qualidade de vida. Conscientizar o mundo de algo tão importante, como o fenômeno das crises ambientais, é algo de fundamental importância, ao mesmo passo que se torna tarefa árdua e tema de discussões polêmicas. O aprofundamento dessa questão permite-nos dizer que o meio-ambiente não é apenas algo a ser pensado hoje; é também uma associação de conjuntos e inter-relações que propiciam a vida futura.

Será, então, que seremos a última geração a existir? Até quando a Terra suportará demasiada pressão? O que podemos fazer para reverter, ou pelo menos, reduzir, o insustentável?

Em meio à desestruturada política de globalização, multidões de pessoas já estão morrendo de fome, por falta de condições necessárias à sua sobrevivência. Vivemos num universo, onde todos nós somos cúmplices e vítimas das nossas ações e, se não pararmos para observar as causas dessa “modernidade”, a ocorrência de seus efeitos perdurará às nações futuras. Faz-se necessário rever a direção da humanidade, no momento em que sua continuidade se vê ameaçada, principalmente, pelo crescimento da violência generalizada contra nosso habitat.

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Meus indicados para os selos acima são:

Fragmentos de Jô.

Marta entre parênteses.

Devaneios & Loucuras.

Segundas intenções.

Ma Passion Rouge.