Critical Watcher
Dia normal, tarde comum, rotina quebrada... Uma imagem, um momento exato, a ousadia. A espera cheia de dúvidas e o medo. Respostas cansadas e incerteza no ar completavam aquela tarde ociosa... O contato se fez, abri um sorriso e voltei às minhas obrigações. Nada demais! Não havia prova alguma de reciprocidade de atração... Noites foram, dias vieram. Nos aproximamos e nos descobrimos. Era o começo de tudo. Era o início de uma saudável história...
Critical Watcher
Consumido por um sentimento estranho, fecho os olhos e as primaveras já não possuem a mesma fragrância. Estão melhores, mais bonitas... Ávido por um momento assim e enfurecido por anos de busca à minha felicidade - e conseqüentes decepções -, descanso tranqüilo neste meu sonho real. A pureza de uma criança preenche-me o coração e anestesia todas as possíveis desilusões. Apesar da existência do medo, talvez pela incerteza do amanhã, suplanta-se o ideal de liberdade, de encontro de corpos nunca antes imaginado... E eu não estou só; há alguém que caminha ao meu lado... Há alguém que parece possuir todas as qualidades e defeitos que sempre busquei. Os sentimentos afloram, as mágoas passam, o futuro nos abraça... Seria tudo verdade ou aquele sonho, antes real, não passaria de apenas frutos de minha imaginação? Não sei! Apenas não quero acordar daquela viagem excepcional. Quero tornar-me fruto de toda aquela situação e viver para sempre o amor mais raro e mais completo que já senti; o amor que pôde me fazer criança, encher-me de ideais, trazer-me o tão ardente prazer de minha existência...

Critical Watcher
Esse texto eu já havia postado há alguns dias, no entanto, em outro blog. Talvez esse seja um dos textos que mais trazem à tona o sentimento de indignação diante da realidade nua e crua à qual estamos submetidos. Eis:

"Cores brilhantes e amarelas. Estou constantemente a vê-las. Pescoços felizes são, diariamente, iluminados por sua suposta beleza. Dedos limpos, bem cuidados. Lá estão eles, todos os dias com a mesma função. O tempo passa e nada os muda. São apreciados em essência... Bastou-me fechar os olhos. Uma realidade começa a se despir defronte minhas mãos imóveis. O choro. A criança. A fome. O desespero materno. Continuo atentamente a observar. Como que antagonicamente, as cores perdem o brilho reverenciado. O feliz não enxerga o triste. O insatisfeito com seus quilos a mais opõe-se ao pai desesperado. E nada muda. Uma família parece perder mais um. Mais um grito de piedade. Aflição, medo, cólera. Os sinos tocam e as luzes apagam-se. Dividem-se as imagens. Vejo de um lado aquele brilho renascer. Do outro, escuridão. Vejo o ouro cintilante palpitar nos corações dos que esquecem a realidade humana. O meio os transformou. São cegos e surdos - sem atitude alguma... E nós aqui estamos. Sorrisos perfeitos, estômagos fartos, bocas molhadas... Carro na porta, bom emprego, dinheiro no bolso. Não poderiam faltar também risos ao vento e a felicidade estampada. E não muito longe, escuto o choro de mais uma família, onde pessoas morrem e a escassez apropria-se da vida. O temor atinge o ápice de sua satisfação. Destrói amargamente a fragilidade esquecida...
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Mas de tudo, o mais lastimável é saber que outra noite chega a transcorrer normalmente aos olhos dos que conseguem descansar sobre o seu conforto incomum e tão restrito."
Critical Watcher

"Queria eu ter o dom de escrever o que quisesse, já que tantas figuras primorosas se fizeram desvencilhar diante de mim. Dizem que o verdadeiro poeta é aquele que consegue transformar um momento fotográfico ou imaginário em um lindo texto, recheado de descrições harmoniosas e atrativas. No ultra-romantismo, o sentimentalismo excessivo e sombrio se destacava. Os escritores denunciavam toda a melancolia de uma vida marcada por desilusões e tédio, definindo o drama como papel marcante em suas poesias. Ao contrário do que muitos pensam, eu não os via como pessoas tristes, mas sim como produtos da tristeza do meio. E, constantemente, sou vítima dessa realidade. Não consigo simplesmente fechar os olhos e esquecer as feridas que marcam meu corpo. Não tenho aptidão à escrita dos sonhos utópicos e repletos de ficção. Juízo falso, engano da alma, persuasão transgressora. Seriam esses os objetos aos quais eu deva dar primazia? Silêncio responde: - Apaguem as luzes!"

Critical Watcher

"E num instante qualquer comecei a pensar em minha vida. Foi tudo tão rápido que nem sequer tive direito de aceitar aquela situação. Sem esperar, flashes e luzes transpassaram as imagens que meus olhos podiam enxergar naquele momento. À minha memória restavam apenas registros passados de sentimentos que já não mais existiam. Eu estava em outro lugar, em outro tempo, indeterminado e esquecido. Como de relance, aos meus olhos foi permitido divisar imagens que há muito adormeciam em meu inconsciente. Lágrimas corriam de meus olhos, como se algo ou alguém estivesse a perfurar-me incisivamente. E eu não entendia o porquê da árdua necessidade que havia naquele ato, que soava como penitência a um passado marcado por culpa e iniqüidade. Então, via-me correndo diante de uma imensidão de sombras que aterrorizavam meus passos e que pareciam degustar o agonizar de meus gritos. Não era fácil. Eu tentava materializar a idéia de que tudo aquilo não passava de um pesadelo, desviando de todas as tentativas de destruição a mim lançadas, mas de nada isso me servia. As dores aumentavam, o medo acirrava-se, o grito ecoava cada vez mais penetrante. Minha pele ardia em chamas e volatilizava-se perante minha fraqueza. Desordenadamente, vozes e inscrições surgiam diante de mim. Era tudo uma ordem, uma prescrição... Algo que me deixava bem claro o perigo daquela circunstância. Experimentei chegar ao íntimo de minha mente, a fim de buscar razões que justificassem o demolir de um simples instante de reflexão. De súbito, comecei a entender o que me passava. Era você quem contundia a minha lembrança... E que pena, uma triste lembrança!"