Critical Watcher
Amanheci sentindo falta de seu abraço
e do seu carinho ao dizer que eu era único
São coisas assim que me assustam
e me fazem tentar voltar à realidade.

Mas eu não volto.

A dor da saudade ou o medo da conquista
são inerentes a qualquer grande amor.
E sentir-se humano é um graça divina:
uma conquista de poucos, na verdade.

A efemeridade das coisas torna tudo singular,
mas eu não gosto de coisas sem plural.
Para mim, tudo é intenso, vívido e vermelho
até que a cor desapareça e novas dores surjam.

E com as dores, novas paixões.
Com as paixões, alguns amores.

Acreditar que posso ir além mesmo sem você
torna meus dias menos difíceis.
Porque a paixão me consome, a paixão me enlouquece.
A paixão não anestesia as dores de vivê-la.

Procuro no celular alguma mensagem sua
e seguro-me para não te escrever coisas bonitas.
Mas as coisas não eram pra ser assim,
pois dizer-te amores não me faz um estranho.

Eu acredito em você se me olha nos olhos
e me diz que tudo será eterno.
Eu acredito quando você me diz novamente
que sou e serei para sempre o único.

Mas a minha crença não é infinita, meu amor.
Você sempre soube que ela dura o instante de uma faísca.
E que talvez fosse preciso me provar isso a cada novo dia,
porque no final eu sei que as coisas não são bem assim.

E [infelizmente] o ciclo recomeça.
Critical Watcher
Ele era um garoto dedicado. Veio morar na cidade grande com o propósito de seguir o sonho de se tornar um grande fisioterapeuta. Mesmo longe de seus pais e, muitas vezes, afastado de seus melhores amigos, o Victor sabia exatamente o que queria. Às vezes ele tentava dizer a si mesmo para desistir, mas logo isso lhe mudava de pensamento, porque ele sabia o quanto as pessoas precisariam da ajuda dele, enquanto profissional da saúde. Ocorreu-lhe que surgiu uma oportunidade de trabalhar com alguns idosos em um asilo, cuja função seria massagear os seus dedos dos pés, ajudando-os na circulação e na diminuição de dores daqueles pés pesados de caminhar. Só que existia um problema que o Victor tinha que enfrentar: ele se envolvia emocionalmente com todo paciente, e toda vez que ele via tristeza no olhar de um idoso, ele também se sentia triste, embora naquele momento todas as suas ações se voltassem para um sorriso de agrado e uma conversa que fizesse aquele velhinho esboçar alguma reação feliz. Outra característica também inerente àquele bom moço era o fato de que ele não se continha com pouco. Seu trabalho seria resumido a apenas dois idosos, mas ele prometeu a si mesmo que daria seu amor e carinho a todos que ali estivessem presentes, e se dedicaria para tornar aquele ambiente de isolamento social um pouco mais cheio de risos. No seu primeiro dia de visita ao asilo, o Victor notou que existiam muitos idosos para poucas pessoas que cuidavam deles, e também notou que, de forma geral, as velhinhas eram bem mais tristes que os velhinhos, talvez porque estes últimos conversavam mais entre si sobre seus interesses em comum e acabavam formando mais amigos do que as senhoras. Quando o massageador de dedos chegou, os velhinhos ficaram felizes por receber a visita de alguém nunca antes visto, e é então que o Victor avisa que estará indo àquele asilo para ajudá-los com fisioterapia nos dedos dos pés, e que ficará responsável por alguns deles. No entanto, mesmo naquele ambiente de receptividade, existia uma senhora cabisbaixa que parecia estar muito deprimida por estar abandonada ali, sem qualquer familiar ou amigos a visitá-la. O Victor chega até ela e pergunta se está tudo bem, dizendo que vai cuidar dela da melhor forma possível e que tudo ficará tranquilo. A senhora, com um olhar ainda de tristeza e medo, pede para que por favor ele não a machuque, porque ela tem medo de sentir dor. O bom garoto, com o coração totalmente dolorido, segura as mãos daquela velhinha e garante-lhe que nada vai doer, e que a massagem dos dedos só vai trazer coisas boas. A velhinha sorri, com os olhos brilhando por acreditar que encontrou seu mais novo amigo. E, de fato, ela o encontrou.
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Ao chegar em casa, o massageador de dedos chorou e pediu a Deus que o abençoasse nessa caminhada, e que antes de qualquer coisa mantivesse o seu sentimento pelos pacientes, pois nada no mundo conseguiria comprar aquele sorriso de confiança que ele conquistara naquela manhã.
Critical Watcher
O propósito de se ter um blog foi, a priore, o de poder publicar todo e qualquer sentimento que estivesse acontecendo em minha vida naquele instante. Para tanto, fiz uso de um artifício que me escondia por trás dessas palavras, de maneira tal a não permitir (na grande maioria dos textos) que o que eu expunha pudesse ser diretamente relacionado ao que eu vivia naquele momento. É claro que nem sempre foi fácil manter os sete cadeados bem trancafiados, e uma hora ou outra lá estava o “observador crítico” a deixar que a crítica não fosse objeto de sua visão de mundo, mas sim uma crítica ao mundo que ele deixava fluir pelos seus próprios dedos: uma crítica à sua alma. Existiu de tudo: ego massageado, medos descobertos, amores quase eternos, dores [im]previsíveis, renascimento e queda, sonhos conquistados, desejos da carne, dúvidas, sexo, paz e conforto. Mas tudo que sinto agora se resume a uma dor de cabeça consciente, por ter permitido que aquele observador nato caísse no enorme buraco que eu mesmo criei durante os últimos anos. Eu era aquela criança que se lambuzava toda de sorvete e não sentia o menor pesar nisso. E, estranhamente, acordei sentindo falta da liberdade e da segurança que em mim sempre estiveram presentes. Cheguei a pensar que estive resguardado, mas logo lembrei dos inúmeros espinhos que me permiti por vezes. Eis que aceitar todas essas dores e vive-las de forma intensa me fez sentir um alívio quase humano. É tudo uma pequena gota de sangue, mas eu sei que é apenas o começo. E eu já posso respirar.


Mom, today is your day. Happy Birthday!
But, mom, do not forget: everyday is your day, ok?