Critical Watcher
Sinto falta do desconhecido.
Sinto falta de alguém que nem mesmo sei se um dia existiu.
Sinto falta do impossível. Sinto falta do incomum.

Sim, eu sinto falta de tudo que me faça sonhar.
Critical Watcher

Vasculhando as músicas do notebook, eis que me deparo com algumas músicas da Dido. A primeira coisa que pensei foi "nossa, eu ouvia muito isso quando tinha 18, 19 anos". Naquela época, Dido era o tipo de cantora que conseguia me fazer pensar adiante, fazia eu conseguir me concentrar e pôr minhas ideias em prática. Como é de se esperar em qualquer jovem, somos projetados a imaginar o futuro, a ter receios do que irá acontecer adiante e como isso vai acontecer. Vivemos sob correria, comendo os dias de hoje para que o amanhã chegue logo. Não sabemos ouvir o "bom dia" daqueles que sorriem toda manhã no trabalho, simplesmente reagimos mecanicamente em resposta àquilo. Não conseguimos lembrar da última vez que chegamos em nossos irmãos para dizer o quanto os amamos, ou para nossos pais e falamos que eles são incrivelmente maravilhosos, mesmo com todos os defeitos. A vida acaba sendo muito estranha, quando você começa a perceber que o tempo é inversamente proporcional ao seu desejo... Se você quer que ele corra, ele passa devagar. E se você quer que aquele momento se eternize, você não tem nem tempo e o instante já se passou. Correr, correr e correr, sonhando alto com o primeiro apartamento depois que estiver trabalhando, ou com o carro que vai comprar com seu próprio dinheiro, e a vida liberta que você vai encontrar lá na frente... Ontem fui tirar uma dúvida com minha orientadora sobre o que ela achava sobre eu adiantar o estágio obrigatório de meu curso, afim de me graduar um semestre antes do previsto. Conversamos sobre os meus motivos para querer tanto me formar antes do prazo normal, as possibilidades mais rápidas de emprego, um semestre ganho para estudar para concursos e ainda a tentativa de um mestrado. Até então, para mim, adiantar um semestre mudaria o transcurso de boa parte de minha vida profissional. Eu entraria no mercado de trabalho mais cedo, aos 21 anos, e estaria preparado para viver "by my own". Depois de muito me ouvir, ela me mostrou o quanto eu estava errado e que eu não precisava correr tanto, que eu aproveitasse melhor minha vida: o meu hoje. Ela me fez entender, através daquele conselho maternal, que a vida pode passar rápido demais e que eu deveria olhar melhor o mundo, namorar mais, fazer mais amigos, viajar mais... porque ela já sabia que o tempo um dia me mostraria o quão doloroso é olhar para o passado e não ter feito o que você gostaria de ter feito e não fez. Saí daquela sala decidido a entender melhor o sorriso das pessoas, ouvir mais aqueles que precisam, dedicar-me à minha saúde mental, chorar mais, fotografar mais as pessoas que eu amo, viajar por caminhos nunca antes vistos, e não idealizar tanto o futuro. Porque eu sei que eu vou conseguir as coisas que sempre quis, com paciência, serenidade e cautela. Eu sei que as atitudes que tenho tomado durante todos os anos de minha vida um dia me conduzirão ao almejado desejo de ser eu mesmo, sem medo das minhas falhas, sem o arrependimento de mostrar quem eu sempre fui. O futuro passou a ter um significado diferente pra mim... Antes ele era um labirinto, com difíceis saídas e várias interrogações. Hoje o vejo como um mar aberto, com algumas fortes ondas, algumas pedras na areia e a infinitude do horizonte a me chamar para desbravá-lo... Hoje o futuro me espera incessantemente, e a minha única dúvida é se conseguirei atravessar a praia e, de uma vez por todas, tocar os pés na água.

Dias velhos se vão, mas os novos sempre chegam. Assim, absolutamente pontuais.