Critical Watcher

Você nem me chamava tanto à atenção. Não era aquela pessoa que eu poderia dizer que amava – se bem que sempre achei duvidoso o modo como esse sentimento reagia em cada um. Parecia ser completamente diferente de mim, cheia de defeitos que eu não admitia. Acho que por esse motivo nossa relação foi esfriando cada vez mais... Eu não me sentia bem dizendo todas aquelas verdades tristes face a face, mas elas eram necessárias; eu precisava dizer que já não suportava as suas cobranças. Eu precisava abrir seus olhos e gritar: - Acabou!

E assim aconteceu.

Desligamo-nos um do outro. Ou melhor, desliguei-me de você. As más ou boas línguas estavam sempre a me perturbar com aqueles comentários sobre a situação lamentável em que você estava. Perdera dias de sono, prometera suicídio, estava emagrecendo descontroladamente. Para mim, aquilo tudo não passava de uma depressão boba de uma jovem desencantada.

“O que eu posso fazer? Não há volta. Eu não te amo mais. Eu não sinto absolutamente nada quando estou ao seu lado”, era a minha resposta mais constante.

Meu pensamento não mudara, até que, após 15 dias do término, percebi algo. Ninguém mais falava sobre você. Não sei se a falta de tempo e a correria do dia-a-dia estavam relacionados a esta abstinência. De fato, algo passou a me incomodar.

Os dias passavam e nada de você.

Quando eu tentava dormir, lembrava-me dos momentos felizes em que você sorria e demonstrava alegria por estar comigo. Eram raros de minha parte, mas também existiam. O engraçado é que você sempre fora feliz por namorar comigo, mas eu não! Eu não era feliz. E, desde então, passei a duvidar se o problema estava em mim.

[Meses correram e a sua ausência insistia.]

“Quer saber? Vou procurá-la amanhã mesmo”, pensara eu.

Rondei todos os bairros. Perguntei a amigos de seus familiares sobre o seu paradeiro. Não ousaria perguntar diretamente a eles. Havia rancor em seus olhares. Isso era claro.

Nossos amigos em comum desapareceram também; desligavam o telefone sem nem ouvir o que eu tinha a dizer. Me sentia só. Você me fazia falta.

E fui embora, alimentando a verdade que aquela grande decepção me causara. Me senti ilhado, abandonado por tudo e todos.

[Ao chegar ao meu condomínio, passando pela guarita, recebo do vigia uma espécie de bilhete. Mas não parecia ser um. Possuía um tamanho um pouco maior do que o convencional. Era bem perfumado e tinha letras quase ilegíveis.]

“Não sei o porquê de estar mais uma vez escrevendo algo pra você. Por dias, tentei fazer o que me pedira: abandonar tudo que vivemos. Não foi fácil. Algumas coisas pareceram ainda porfiar em moer minha mente. Primeiro beijo, o pedido de namoro, a nossa primeira vez. Tudo teve um toque muito especial. Lembra-se daquela noite que fomos dormir juntinhos na praia de Bom Jesus e que quase não conseguimos devido ao frio e às gargalhadas involuntárias que saíam de nossas bocas? Foi uma das minhas recordações mais dolorosas. É, isso me faz uma falta imensurável. Mas é saudável, acredite.”

[Nesse momento, sem esperar, tive raiva de mim mesmo. Minha alma deixava cair sob meus olhos a lágrima mais dolorosa de todas.]

[Continuo a ler.]

“Nesse momento você deve estar se questionando onde e como estou. Não vou responder nenhuma delas, digo-lhes de antemão. Mas a verdade é que a distância me fez rever os sentimentos que em mim habitavam. Não se assuste! Os verbos realmente ficarão no pretérito. Eles não têm mais sentido, se usados no presente. Descobri que a sua injúria perante minha imagem foi mais forte que eu [a do passado]. Só tenho a agradecer, pois sou uma nova mulher. Sou muito grata aos céus por você ter existido e rezo todos os dias para que você também encontre o seu caminho. O meu já está sendo trilhado. Um forte abraço da menina que ERA frágil.”

(Um dia aprendi que não havia formas de sedução mais surpreendentes que a própria sinceridade. Ela era capaz de mover as ditas montanhas. E, nem mesmo assim, você conseguiu me fazer mudar de opinião. É hora do meu adeus.)

FIM.

Critical Watcher
Estava eu a passear pelos meus blogs favoritos; desvencilhando novos textos, imaginando novas situações... Até que algo "literalmente" inesperado surge: recebi uma premiação dupla de dois blogueiros, ou seja, uma indicação do prêmio de "Este blog vale a pena conferir".



E como manda a tradição, preciso indicar novos 5 merecedores. Então aqui está:

Uniproibida http://uniproibida.blogspot.com/
Fragmentos de Jô http://www.fragmentosdejo.blogspot.com/
Segundas Intenções http://segundas-intencoes.blogspot.com/
Ma Passion Rouge http://mapassionrouge.blogspot.com/
Para ler sem olhar http://paralersemolhar.blogspot.com/

Parabéns a todos. Vocês são minha preferência.
Critical Watcher

[Sala de bate-papo]


Ali estavam os dois seres inquietos a conversar algo que nunca lhes viera na mente... Uma noite marcada por respostas e receios; perguntas e descobertas.


- Estou mais romântico que nunca, dizia ele.

- Eu sempre fui assim – retrucou aquela menina cheia de sonhos e pensamentos amorosos.

- Você sabe o que é amor?

- Existem muitos, mas você refere-se àquele amor?

- Sim, o carnal.

- Eu nunca amei ninguém. Mas tenho uma definição bem minha do que ele representa.

- Como assim? [“Vamos ver se ela sabe realmente do que estamos falando”, pensou ele...]

- Talvez pelo fato de eu nunca ter amado, eu crie em minha mente inúmeras faces. Idealizações, por assim dizer.

- Desmascare-as.

- O amor é algo romântico, que faz parar o tempo. É uma mistura de sentimentos complexos... Algo sério e eterno, recheado de cumplicidade e afeição pelo outro.

- E o que você espera da pessoa amada?

- Não sou do tipo “eu amo sem esperar que você me ame”. Eu quero sentir a reciprocidade. Quero experimentar o estado de idiotice dos meus sentimentos. Quero cada vez mais delirar num romance sem fim, sentir-me única nas mãos dele.

- Acredita em príncipes?

- Com toda a certeza. Sei que existe um alguém perfeito pra minha vida.


(Pausa)


[O homem parou por um tempo pra pensar. Era tão estranho, naquela visão machista que tinha, acreditar que alguém ainda pudesse divinizar algo tão cheio de medos e complicações. Não! Pra ele aquilo tudo não passava de uma conversa fajuta. No entanto, resolveu ir mais adiante. Descobrir se o que ele pensava acreditar era realmente o certo. E o fez...]


- Mas quanto a mim? Como achas que sou sentimentalmente?

- Você não foi estimulado - respondeu com segurança aquela jovem garota.

- Hã? Como assim? Em que aspecto?

- Ninguém nunca despertou em você algo forte.


(Nova pausa. Dessa vez, um tanto quanto mais rápida que a anterior. A dúvida o consumia. A incerteza beirava por entre a inércia que o enternecia. O silêncio e a voz daquela menina mudavam o rumo de seus pensamentos. Algo pôs fim ao sossego de suas imaginações...)


- Por debaixo dessa roupa vive um romântico inveterado.

- É engraçado o modo como você fala de mim. Parece existir convicção em suas palavras. Ressuscita em você uma mulher madura, algo que nunca vi em nenhuma outra pessoa de sua idade.

- Obrigada, é muito bom ouvir isso.


(Os dois não sabiam mais o que falar. Ela parecia envergonhada diante daquelas palavras. Ele, por sentir que descobrira algo que nem mesmo a maturidade do tempo lhe propiciara...)

.

.

.

[Às 21:50h, ele olha pro relógio e não pensa três vezes. Veste uma roupa, banha-se no perfume francês mais caro que possuía e sai quase que sem rumo. De tudo só havia uma certeza: aquela noite mudaria sua vida...]


Critical Watcher

A pergunta mais rápida que me veio à mente foi: - Por que não poderia ser eu quem deveria estar ali naquela imagem?

[Vácuo...]

É incrível como quase sempre me vejo numa situação como essa. E o problema maior são as transformações físico-mentais que me abordam tão perversamente. Não sei como poderia tudo isso acontecer, pois eu vi o amor em suas palavras, e hoje me sinto completamente inocente. Havia uma veracidade em tudo que envolvia nossos sentimentos. Por um lado, eu estava mais crescido e com mais experiência. Do outro, estava você – uma flor que começava a desabrochar. Era tão bom poder sentir as fragrâncias de suas pétalas e poder experimentar o brilho de seu sorriso iluminando meus olhos. Conversávamos todos os dias, trocávamos conselhos, discutíamos sobre arte, música e viagens. Mas tudo era impalpável, inacessível. Eram apenas conversas de jovens flores que começavam a se conhecer. Ouvi, por vezes, você dizer que me amava, que me queria por perto e que esperava a minha vinda. Os dias passavam e a esperança de nosso encontro carnal aumentava a cada novo raio de luz que a manhã emitia. Sua personalidade? Insólita, admirável. Florescia, dentro de mim, o amor que eu sempre busquei. A paixão mais rara de todas as paixões. O refúgio dos meus problemas. E falar isso pra você não era fácil, afinal o beija-flor mensageiro já estava cansado de tantos recados que nos enviávamos. Nunca pude chegar bem perto de você e, olhando nos seus olhos, dizer: - Promete que me ama pra sempre? [...] Sim, havia, antes de tudo, o medo. Ele era a causa das minhas possíveis falhas de comunicação. Abstive-me de coisas que não poderiam ser trancafiadas a sete chaves. Mas, enfim, o grande dia chegou... Tentei livrar-me de todas as raízes que me prendiam ao chão, permitindo-me o vôo tão apetecido. O vento daquela tarde, único capaz de me propiciar a ida de meu jardim ao seu, estava chegando. Precisei esperar meses por ele; deixei minhas pétalas crescerem como asas. Isso me ajudaria a ter mais equilíbrio pra cair bem próximo de você. Logo, então, me surgiram alguns problemas. Uma de minhas raízes me segurava fortemente ao solo. Ela não permitia a minha partida, e garantiu-me que morreria, caso eu a abandonasse. Ainda gritei pelo seu nome, tentando mesmo assim partir pra onde você estava. Não houve soluções. O vento foi-se sem mim. Eu não sabia mais o que fazer. Escapava, perante todas as plantas que ali estavam, tudo o que eu mais queria pra minha vida. Escapava nosso sonho, nossa união.
Critical Watcher

Sensação louca de te sentir.

De tocar teus lábios com os meus.

De beijar-te profundamente.

De correr de mãos dadas numa simples manhã.

Que condição imoderada.

Que paixão avassaladora.

Que preciosidade incomum.

Risos paralelos.

Sentidos à flor da pele.

Frio, calor, emoção, prazer.

Fusão de impressões quase indescritíveis.

Um fluxo que vai e vem.

Amplexo.

Amor!
Critical Watcher

Eu tinha você sob meu domínio. O que eu sentia não passava de um desejo carnal, de uma cobiça. Esperava encontrar apenas um alguém que pudesse me fazer sentir prazer em desperdiçar tempo, andando sem rumo num caminho infinito e apreciável. Isso não era pedir demais – muito menos uma intrínseca necessidade a ser concretizada. A leveza de minha alma não transformava meus anseios em dúvida e desespero. Ao contrário. Aquele estado de insulamento confiava aos meus atos mais força e serenidade. O vento parecia acariciar-me, contribuindo significativamente à felicidade de meu eu. A natureza, por sua vez, persuadia-me com palavras meigas e sedutoras. Eu estava na mais completa embriaguez psicológica. Nada conseguia transtornar a flexibilidade de meus sentidos, até que o momento inesperado surge. Como em uma forte tempestade, eu perdi toda a segurança que conquistara durante anos. O fracasso sobrepôs-se à minha fiel paz interior, traduzindo-se na destruição completa de meu conceito de vida. Queria estar com você, desafiando o futuro e as minhas próprias imposições. E eu não conseguia me entender, pois todos os meus princípios estavam sendo desobedecidos pelas minhas próprias mãos. A razão, minha única aliada, enfurecidamente tentava ensurdecer e cegar minhas emoções. Nas noites que seguiam, a solidão sempre estava a bater na minha porta. Ameaçadora e destrutiva, seu silêncio era capaz de me fazer trepidar descontroladamente. E quanto a você? Ah, isso era o que mais me incomodava. Nenhuma reação de reciprocidade visível; ficou inerte, como se tudo que eu sentia não tivesse valor algum diante do que você buscava. Demonstrava, mesmo sem intenção alguma de me prejudicar, a sua indiferença. Eu passava semanas planejando situações que possibilitassem nossa aproximação, para que eu pudesse pôr fim à ausência que você me causava. De nada adiantava. Sentia-me como um pássaro atingido durante um vôo: sem mobilidade, indefeso e sem perspectivas futuras. Eu tinha a certeza de que havia uma conspiração contra nós dois. Havia algo que não se conformava com a nossa união. Sim, havia. Décadas passaram, felicidades foram esquecidas, sorrisos extintos. Muitas coisas aconteceram, mas a mais nociva delas foi a sua partida. Não sei por onde você anda; perdemos inteiramente o nosso contato. Ninguém nunca conseguiu entender a sua decisão de fugir de tudo e todos. Uns dizem que você silenciava um amor impossível. Outros, que você sofria por não conseguir entregar-se a ninguém. Não posso dizer que consegui expurgar o sentimento nostálgico que você ainda me causa. Acho que, finalmente, sou capaz de entender o drama que você vivia – talvez até pior que o meu. Você nunca teve a certeza que eu te amava. Nunca lhe disse isso. Logo que nos conhecemos, recordo-me bem, consegui ver o brilho que havia em seus olhos ao me encontrar. E não valorizei as suas demonstrações constantes de amor por mim, pois naquele momento eu me sentia feliz sozinho, sem ninguém ao meu lado. Nossos tempos não se encontraram. Nossos sentimentos surgiram em épocas distintas. A tristeza que hoje me deprecia é o fato de saber que eu contribuí significativamente para a sua perda. E mesmo amando-me, você preocupou-se em não ceder a um romance incerto; em não acreditar na minha paixão, que surgiu tão inesperadamente. Fugir de mim era a saída para aliviar esse amor que tanto você escondia. Quero poder voltar no tempo. Quero gritar para que você escute, onde quer que esteja, a minha súplica por sua volta. Nos meus sonhos, ainda que imaterialmente, sempre nos reencontramos e vivenciamos o amor que a realidade não nos permitiu viver... - Será que com você também é assim? [Mais uma vez a taciturnidade volta a reinar...]