Critical Watcher

Os sentimentos humanos são tão volúveis que, de certa forma, agridem a fé daqueles que possuem esperanças de um dia poder encontrar quem tanto busca. Digo isso porque até mesmo passeando pelas ruas encontramos algum casal a brigar, chamando a atenção de todos, por suspeitas de traições e verbalidades desnecessárias. Ou quem sabe aquele amigo que você conta tudo, abstrai seus problemas apenas dividindo-os com ele, aquele alguém que divide com você telefonemas diários para se saber das novidades do dia... o mesmo alguém que na noite posterior recusa uma ligação sua, esquece que você existe e resolve se divertir com outros amigos.

A traição não pode ser concebida como o ato propriamente dito de utilizar o corpo de outrem para a satisfação própria. É algo muito mais além do que esse conceito barato. A incompreensão diante de uma situação difícil, a falta de carinho nos momentos mais tristes, a ausência de respeito ao parceiro, a maldade do olhar diante de corpos alheios, a falta de bom-senso para discernir quando cometemos algum erro e a total erradicação da necessidade em se ter resignação para o perdão; essas são formas totalmente claras de traição. Outros sentimentos podem surgir e serem adjacentes aos relacionamentos, como o interesse financeiro e a prostituição elitizada, tipicamente presentes na sociedade moderna. No entanto, para muitos, tudo isso não passa de adjetivos comuns que variam de ser humano para ser humano.

Trair entraria, então, como um conceito menos amplo, mais voltado para a questão sexual: o desejo propriamente dito aliado à realização deste. Parece ser um vício humano essa busca incessante pelo par perfeito; um vício que, assim como os demais outros, molda a sua vida social. O que não se tem percebido é que tudo é muito mais simples quando se existe amor.

Nada disso é um depoimento emocional ou uma figura ilustrativa de alguém que acredita que seja possível amar de verdade. É a concretização de uma opinião perante observações atentas à maioria das pessoas de meu convívio. Já descobri mulheres manipuladas por seus parceiros, dominadas pelo medo de perdê-lo, aceitadoras pacíficas da possessão. Já vi amores serem criados da noite para o dia, castelos de aparência construídos sem base, sem crescimento recíproco com o tempo. Uma semana depois, a base começa a ruir e o castelo tão bonito desaba poderosamente. As pessoas ficam magoadas, choram, sofrem e martirizam-se pelo que aconteceu, sem entenderem o porquê daquilo tudo. E, depois, a história se repete, mudando-se apenas os personagens principais. Onde esteve, então, o amor antes tão notável entre as mensagens de boa noite e o “eu te amo” tão estupidamente usado?

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Esperaria, arduamente, para ver os cupidos acertarem os corações apaixonados, de forma certeira e decisiva. Desejaria que o Cupido idealizado por Shakespeare ainda reinasse na atualidade, mas infelizmente ouve-se dizer por aí que ele foi acertado por sua própria flecha, envenenada por atributos negativos, cheios de ódio e rancor.


Critical Watcher
O mundo, que antes parecia-me feliz e cheio de encanto, afoga-se num mar de tristezas e saudades. As palavras ficam amargas, perdem a essência e machucam a pele. O sono é assustado, demora a vir e parece não ter paz. O que está feito é imutável e, no fim das contas, é preciso aceitar.

"Obrigado pelos risos, histórias, carinhos, cuidados e atenção. Obrigado por me receber em tua casa e fazer de mim um filho teu. Descanse em paz."

Homenagem à querida D. Alcindélia.

Critical Watcher
Ele estava encostado na porta observando-a com um ar de riso, que escapava de seus lábios finos. Ela desenhava suas curvas pelo chão, desinibida e milimetricamente sensual. Havia uma distância entre eles, o observador e o palco. A malabarista de movimentos encenava passos leves, lançando olhares inéditos, acariciando seu próprio corpo, desflorando seus prazeres mais secretos. O homem nunca sentira tanto prazer. Chegou a se aproximar mais um pouco, pois a escuridão do quarto só recriava cores marrom-escuro. Ela deu um passo atrás, acenando que ele voltasse para onde estava. Cautelosamente, com a leveza de um pássaro, ela retirou todas as peças que cobriam o seu pudor destemido. Abriu uma garrafa de vinho tinto gaúcho e despejou dentro das duas taças o líquido desejoso (talvez não o único). Sorriu para ele, ainda que cabisbaixa, e bebeu as duas taças, de forma tal a escorrer sobre seu corpo o vermelho tímido do vinho, que encontrava o seu caminho na mais perfeita silhueta.

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Ele não pensou duas vezes... Ela o permitiu.
Critical Watcher
Estou deveras alegre por saber que existem pessoas que me acompanham e que gostam do que lêem. Para mim, é de um prazer imensurável ouvir um carinho de meu leitor ou até mesmo aquelas críticas construtivas que poucos gostam - ou quase ninguém. Venho aqui, então, agradecer a todos aqueles que fazem parte de minha história, àqueles que de uma maneira ou de outra estão desenhando os lirismos que saem de nossa imaginação em conjunto, aos abraços virtuais mais sentidos do que até alguns ditos reais, às doces palavras que mais têm gosto de mel do que o próprio dono da palavra.

Eis meu prêmio feliz:

Recebi este selo de dois grandes artistas da escrita, a Kate Polladsky e o Nobre Epígono... Ambos são donos de blogs, cujos endereços estão linkados logo abaixo, respectivamente. Vale a pena conferir:

- TURN CHAOS INTO ART (É aquele cantinho doce, onde, de fato, o caos é transformado em arte. Uma sensação sublime de sentimentos à flor-da-pele, a doçura de uma mulher e um livro de significados humanos que não devem jamais passar despercebidos.)

- IMAGINAÇÃO DE UM NOBRE (Esse canto é mágico. Ele traz à tona a imaginação brilhante de um nobre. Contos belíssimos, histórias verídicas, a perfeição do equilíbrio entre as palavras e seus sentidos.)

Obrigado pelo prêmio, amigos.

E como é de praxe, devo presentear 5 outros blogueiros com o selo recebido. As minhas indicações são:

Líricas.
Notas de um Amnésico.
Pesar de Alma.
Mundo Pop.
Ma Passion Rouge.

Parabéns a todos.
Critical Watcher

Hoje, mais do que nunca, em um dia em que o medo de perdê-lo se fez tão presente, venho lhes dizer algumas palavras singelas, provindas do ponto mais cândido de meu coração. Sempre me achei uma pessoa muito complicada, de difícil relacionamento; alguém que não conseguia entender o porquê de o “amor” ser assim: tão complicado e infértil... Os dias iam e vinham e, a cada nova experiência, decepções me surgiam.

E eu chorava. Chorava feito criança quando descobre que o papai Noel não existe mais; ou quando acabava o dinheiro para brincar no parque de diversões mais badalado da cidade, não tendo ido em todos os brinquedos. Os brinquedos... Ah, alusão aos relacionamentos que vivi. Eu sempre acreditava que aquele seria meu brinquedo predileto, cujo investimento sempre seria lançado nos risos, na felicidade estampada, no tempo perdido brincando de fazer nada, nos giros e na serenidade dos cavalinhos que pareciam, de fato, cavalgarem.

E o divertimento sempre acabava, cedo ou tarde. Não era o que eu queria para mim. Não era eu quem decidia o fim daquele instante. Eu só pretendia encontrar o meu brinquedo: no sentido mais pueril da palavra. O brinquedo que não fosse apenas um brinquedo. Aquele que me fizesse, por definitivo, esquecer do tempo e deixar que todas as minhas moedas do meu porquinho de gesso valessem a pena. O brinquedo que me completasse em todos os momentos, tristonhos ou felizes.

Certo dia, percebi que os parquinhos de diversões sempre iam embora, após arrecadarem todo o meu tesouro. Deixavam marcas que jamais sairiam de minha vida. Sentimentos que nunca seriam esquecidos: um aprendizado constante. Passava-se o tempo e as festas juninas voltavam a ocorrer. E mais uma vez lá estavam eles: os parques. Sorria com a pretensão mais que nobre de encontrar o que eu procurava, até que novas dores surgissem e novamente aqueles bons tempos fossem embora.

Algumas vezes, eu fazia questão de expulsá-los. Outras, eles se iam sem que eu nem percebesse. O meu medo ia cada vez se tornando mais comum, pois eu estava quase certa de que você não existia. Eu tinha tentando de várias maneiras encontrar você, seja nos fogos de artifício ou no “carrinho de bate-bate”, nas lembranças gostosas da maçã recheada de mel ou nos crepes suíços com chocolate. E de nada me valia. Tempos quase perdidos e que me causavam frustração, medo e aspereza.

*

Mas você surgiu. Surgiu naquele brinquedo de tiro ao alvo, em que as pessoas tentam derrubar os pirulitos, doces, chocolates e afins... Em um tiro certeiro, consegui acertar o seu coração. Um coração espelhado, cuja imagem não passava do reflexo do que eu era. A bala de borracha não quebrou o alvo, e voltou ao meu encontro, acertando-me sem medo.

Havíamos nos encontrado. Senti isso desde o primeiro instante, mesmo com a dor ínfima do início de tudo, com confissões minhas que te deixaram atordoado – o choque inicial da bala em meu peito. Já não vivo sem você. Sinto que é parte de mim e que eu não vou te perder nunca, pois parquinhos de diversões sempre vão e vêm, mas aquela bala que nos acertou em cheio, nunca sairá dos nossos corações.

Depositei, assim, em você, todas as minhas finanças. Cada moedinha de ouro seria a você destinada. Cada medo seria por nós dois enfrentado. Cada dúvida teria fim com o seu simples sorriso de explicação. Foi quando descobri que você não era um brinquedo. Você era o ser mais lindo que já me passara em vista. O alguém por quem esperei noites a fio... E, então, desde esse dia, o meu porquinho de gesso nunca esteve tão feliz e satisfeito, não mais carregando moedas, mas sim uma plenitude de sentimentos que eu não me atreveria a descrever.

A menina do sonho.


Critical Watcher
I didn't really know what to call you
You didn't know me at all

But I was happy to explain

I never really knew how to move you

(Communication - The Cardigans)

Ouvi uma frase que me fez parar e pensar por muitos preciosos minutos. Eis: "O amor nada mais é que o ato da gente ficar no ar, antes de mergulhar." Fiquei emocionado desde o primeiro instante em que essas palavras vieram a mim, como minhas. A simplicidade em que foi escrita e os infindáveis conceitos e sentimentos que estão entre essas poucas palavras arrancaram-me suspiros de felicidade e dor que nem eu mesmo esperava. Mil imagens se fizeram presentes, desde então. Memórias que eu quero que não apaguem...

- Ele prometeu amá-la com todo o fervor de sua vida. Jurou que nada faria aquilo acabar, fez juras de amor e relembrou ser fiél pela eternidade. Mas ele não conseguia... Seus instintos masculinos sempre iam além do que era permitido e os grandes amores iam sendo perdidos, com o tempo. Amou a ponto de ter ódio de si mesmo, por não conseguir fazer da fidelidade algo presente em seus relacionamentos. Para ele, traía apenas pelo sexo, pelo prazer derramado na cama, pelos beijos que conseguia arrancar e armazenar dentro de sua caixinha de lembranças. E todas essas coisas o deixaram. Sem mais sexo, sentimento ou calor.

- Subiu na mais alta cachoeira que havia ali perto. Lágrimas que não paravam de rolar em um rosto triste e amargo. Foram menos de dez segundos até a sua queda na superfície rígida da água. Percebeu, nesses instantes ínfimos, o que representava o sentido maior da vida... Quanto maior era o amor, maior era o tempo no ar... E quanto mais alta era a cachoeira, maior era o amor.

Restou apenas um colorido vermelho naquelas águas correntes, que pareciam bater como um coração, sem parar.
Critical Watcher

Hoje amanheci extremamente cansado. A vontade de estar em meu aconchego nunca foi tão válida quanto como está sendo neste exato instante. Ando cansado do mundo, das coisas que dele surgem, das pessoas que nele habitam. Sinto-me, às vezes, como a Clarice Lispector: saturado da solidão e inapto a este mundo. A verdade é que eu tenho percebido que as coisas parecem ter sempre o mesmo ciclo, funcionam sempre do mesmo jeito e apenas as “peças de teatro” mudam de personagens. E eu, em definitivo, odeio a estática suprema das coisas e a quase tentativa de perfeição dos meus amores. Queria que as pessoas, assim como o Oscar Wilde, acreditassem que é o imperfeito que precisa do amor e que não é necessário viver sob o puritanismo arcaico para ser feliz. Parece brincadeira se ouvir isso quando existe uma proximidade maior comigo, pois o meu espírito velho é mais aparente que a minha necessidade enérgica de outros ares. No entanto, existem mil e uma personalidades dentro de mim que ninguém conhece e, talvez seja esse o motivo da minha admiração por “Tell me your dreams”, de Sidney Sheldon. Acredito que possuo um “eu” diferente para cada situação, como se é de esperar para qualquer humano. No entanto, essa mobilidade de pensamento ou, sei lá, a transação repentina de personalidade e impessoalidade deixam-me aflito e me parece ser algo unicamente meu. E eu continuo admirando tudo isso, mesmo que cansado de esperar, esperar e esperar...

Critical Watcher

“Na chuva tão densa que cai qual cortina,
Que embaça a vista e turva o olhar.”

(Salete Gurgel)

Insistente e cheia de novidades para propor.

Vem com vontade, com aquela voz insuportavelmente agradável.

Diz coisas belas, promete-me que veio para matar a sede e purificar o pecado.

Acaricia minha janela e diz que precisa me falar.

Convenço-a de que é melhor conversarmos lá fora.

E ela aceita.

A seita: um ritual que me faz perder o controle e cair sobre aquelas gotas de prazer.

Enrosca seu corpo por todo o meu. Faz carinho nos meus cabelos molhados.

E não perde a voz. Ressoa. Segura. Vocifera.

Meu corpo está como veio ao mundo. Roupas transparentes.

E ela terrivelmente sensual. Toca-me por completo, molha meus pés e beija-me sem luto.

Água que escorre pela boca e entrelaça minha saliva.

Chuva que bate aqui sem comiseração.

Afoga-me.

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Critical Watcher
Abster-me-ia, inclusive, dos sentimentos bons e dos prazeres da vida. Apenas para evitar a dor dos maus sentimentos e não permitir que meus olhos derramassem a água do impulso; que meu corpo não precisasse mais do seu e que meus sorrisos não mais fossem tão apaixonados. Porque tudo tem seu devido fim. Ou quase tudo.
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Critical Watcher

Lembro-me bem de ouvir dizer que o amor é algo paciente, capaz de esperar e sofrer calado; que o amor não queima e não entorpece; que ele está sempre tranqüilo a ponto de deixar o mundo cair sobre tudo e todos e não reagir a nada... Isso não é verdade, sem dúvida. Não posso acreditar na estática do amor. Não posso acreditar que tudo seja uma espera sem fim. Esse amor pueril e poeta está apenas nos livros encantados e nas estórias que sempre ouvi antes de dormir. Quem ama grita impaciente pelo simples abraço, enlouquece com a distância do outro, sente o frio da ausência, movimenta-se, soluciona, enriquece a alma, aprecia...


Fico aqui imaginando o quanto foi difícil pra todos aqueles que um dia amaram loucamente e não puderam ter a oportunidade de expor tudo que sentiram. De fato, nada é pequeno ou vivido em pouca quantidade enquanto acredita-se estar amando. As doses de sentimento não são passageiras e parecem aumentar mais e mais a cada dia. De início, você chega a pensar que é apenas mais um romance em sua vida. E, já precavido do que pode acontecer, deixa apenas as coisas fluírem: sem medos, restrições ou arrependimentos.

As carícias são trocadas, as conversas passam a ser mais duradouras, os laços vão se efetivando e você começa a gostar daquele estado de plena satisfação, onde o outro te completa em tudo que precisa. Ainda assim, nada parece ter muito sentido e o velho pensamento de “deixar a vida te levar” entra em vigor. O que você sente é bom: o coração palpita com a janelinha do messenger que sobe, com a mensagem de boa noite inesperada durante a noite mais solitária de sua vida, com a ligação que você recebe pela primeira vez só pra conhecer a voz e tentar uma maior aproximação entre os amados. O sorriso começa a aparecer com mais freqüência, as músicas são sempre muito parecidas com vocês dois, a saudade sempre é mais forte do que a razão...

Quando menos espera, ocorre uma mudança irreversível em sua vida. Você já não se vê sozinho, não consegue imaginar-se tendo a vida de antes, sem o amor que enriquece e dá razões pra viver. Começa, então, a achar as coisas feitas sem o outro desinteressantes e sem valor, não mais tem paciência para cantadas fajutas, sente que sua mão só pode ser acompanhada por aquela outra, já registrada como sua. E a vida vai ganhando sentido a dois, morando juntos, sonhando com os planos futuros, embebedando-se com os encontros que ainda irão de acontecer ocasionalmente.

O passo seguinte é um conhecer os amigos do outro. Sem esperar, você se surpreende com a seriedade com que as coisas estão caminhando e adora a idéia de descobrir outras pessoas especiais em sua vida. Apaixona-se por aqueles seres tão importantes e que só fizeram o amor fortificar-se ainda mais: sorrisos ao vento, alegrias em comum, bate-papos construtivos, vidas paralelas à que você vem conhecendo... É emocionante acreditar que toda essa história foi feita por vocês dois, que vocês conseguiram em tão pouco tempo encontrar o caminho definitivo de suas vidas, que vocês já estão conformados e mais do que felizes com a idéia do “pra sempre”.

Hoje, num dia não muito convencional de eleições, escuto as buzinas e as músicas ressoantes nas ruas, transformando o ambiente e enchendo de felicidade os corações de muita gente. Mesmo assim, tentando deixar a liberdade encontrar em mim algum lugar de moradia, não consigo sentir outra coisa a não ser um turbilhão de desejos e vontades de estar com você... A distância, como eu já lhe havia dito, é apenas um pretexto encontrado por Deus para que provemos o quão belo é tudo o que sentimos. E estou encarando isso com todo o meu ser, priorizando o “nós” antes do “eu”, gastando minutos imaginando o seu sorriso inocente, encontrando graça em tudo que vejo e sinto...

De tudo que já pude escolher para minha vida, de todos os caminhos pelos quais já pude optar, de todo o brilho no olhar que já encontrei nas crianças mais puras, de toda a docilidade das flores e seus beijadores, de todo o calor latente que aqueceu meu peito nos momentos mais dolorosos, de todo ensinamento que já conquistei durante as quase duas décadas de minha vida...

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... de tudo, resta-me dizer apenas que você é a mais especial de todas, o maior sentido de tudo, o amor que eu quero ter até o fim de minha vida. E assim, permito-me dizer que te amo incondicionalmente e dou a você, por definitivo, o meu coração, cujas batidas já não mais acontecem sem você.

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Critical Watcher

Rasga a carne crua e quente
Marca o corpo sem piedade
Destrói e envenena por completo
O ser que nasce sem maldade

A têmpera de cal e cola
Apagada pela falta de cor
Quer dilúvio, quer banho
Tons vermelhos e amarelos

E a bátega que não chega
Dá ao sol que resplandece
O poder maior de liderança
A fiel injúria ao que precisa

Novos tons vermelhos e amarelos
A carne nem mais sente dor
Escorre o medo por entre as rupturas
- Vai-te junto ardor amargo!

E clama, sem medo ou piedade
Envenena-se, embebeda-se
Irriga-se de azul e verde
A mistura se apodera

A têmpera ganha vida
E embora ainda desbotada
Faz dos lagos o sangue...
Fotossintetizantes híbridos

Corre e escoa a corrente infinda
Com força e coragem sente o chão
Abraça-o e mancha-se do marrom escuro
Que faltava nas cores lancinantes

- Traga-me a escuridão!
Minhas devassas mãos não alcançam
O fel que sai dos olhos assassinos
És tu, fim de crepúsculo
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E a têmpera desmaia, extasiada de tantas cores e pouco sentimento.
Critical Watcher

Eu te pego pela mão, me aproximo de teu rosto e deixo os nossos corpos colados numa sintonia incomum. Teus olhos denunciam o desentender de minha atitude, deixando-te surpresa com tamanha agilidade e sincronia dos movimentos que ali apenas te permitem aceitar meu jogo de sedução. A minha mão corre de tuas costas ao teu pescoço trêmulo, apertando-nos com mais força e segurando com violência os teus cabelos. Meus lábios calculam um ângulo perfeito, deixando-te enxergar um sorriso cheio de pretensões. Ainda sem entender, teu corpo permanece estático e a loucura do meu faz de brinquedo-de-criança a ousadia que se apodera. Minha barba arranha teu rosto de um lado ao outro e o teu perfume se confunde com o cheiro de minha boca... A outra mão, ansiosa, te segura pela cintura e faz do teu corpo meu. Os olhos se fecham e a brincadeira de lábios que se roçam parece não mais ter fim... Sinto apenas o cheiro de bebida, prazer e você.

Critical Watcher
Foto: Vicente Freitas
_____Existem coisas que parecem ter o exímio poder de mexer com o íntimo. Algumas delas, sem esperar, tomam conta de nosso ser pela beleza e despretensão que reinam em seus atos frágeis e inocentes, repletos de pureza. Existem coisas que chegam sem mandar recado ou aviso prévio, enchendo nosso coração de surpresa e contentamento. A magnitude de seu canto, o brando bater de suas asas, a aproximação física de seres não muito particulares.
_____E como que em um jogo onde a volúpia perde sua leviandade, os traços comedidos são facilmente transformados em liberdade e segurança. A conquista de mais um passo próximo de sua beleza rara acaricia o meu âmago e desfaz a minh'alma em um sorriso infindo. Sorriso esse que faz meu ser tremer em lágrimas e purificação.
_____Existem coisas que irradiam promessas sem falas, verdades sem juras eternas, olhares sem maldade. E quando isso ocorre, a tão esperada paz do espírito se renova, transformando o âmbito de nossa vida em adoração e dança. Suas asas, até então estáticas, alçam o vôo predileto que, ainda sem medo, ganham o céu e a independência irrevogável, sob sons e líricas perfeitas.
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"Abrem-se as portas e o espetáculo começa.
De cá, vejo o brilho incessante de teus olhos.
Cada gesto, leveza, movimento, encanto.
És o pássaro que desenha no céu a tua arte,
Refugiando em mim a paz de que preciso."
(Vicente Freitas)