Critical Watcher

Hoje amanheci extremamente cansado. A vontade de estar em meu aconchego nunca foi tão válida quanto como está sendo neste exato instante. Ando cansado do mundo, das coisas que dele surgem, das pessoas que nele habitam. Sinto-me, às vezes, como a Clarice Lispector: saturado da solidão e inapto a este mundo. A verdade é que eu tenho percebido que as coisas parecem ter sempre o mesmo ciclo, funcionam sempre do mesmo jeito e apenas as “peças de teatro” mudam de personagens. E eu, em definitivo, odeio a estática suprema das coisas e a quase tentativa de perfeição dos meus amores. Queria que as pessoas, assim como o Oscar Wilde, acreditassem que é o imperfeito que precisa do amor e que não é necessário viver sob o puritanismo arcaico para ser feliz. Parece brincadeira se ouvir isso quando existe uma proximidade maior comigo, pois o meu espírito velho é mais aparente que a minha necessidade enérgica de outros ares. No entanto, existem mil e uma personalidades dentro de mim que ninguém conhece e, talvez seja esse o motivo da minha admiração por “Tell me your dreams”, de Sidney Sheldon. Acredito que possuo um “eu” diferente para cada situação, como se é de esperar para qualquer humano. No entanto, essa mobilidade de pensamento ou, sei lá, a transação repentina de personalidade e impessoalidade deixam-me aflito e me parece ser algo unicamente meu. E eu continuo admirando tudo isso, mesmo que cansado de esperar, esperar e esperar...

9 Responses
  1. Eu, somos vários.

    Te beijo, então.

    E desejo que sejam felizes, todos os teus dias.


  2. Anônimo Says:

    Omissão e reticências cabem em quase todo lugar, mesmo quando na vida é preciso tomar partido.
    Cansaço...
    Noções de estética nada estéticas...
    Probabilidades tão inexatas...
    A busca por completar as próprias ilimitações...
    A alteridade tão típica em nós...
    que somos HUMANOS, demasiadamente humanos.


  3. Eu tô com esse livro de Sidney Sheldon aqui na minha casa, mas ainda nem comecei a lê-lo, e adoro mais ainda dois sujeitos que você citou no texto: Clarice e Oscar, esses tais me chocaram um pouco quando tava começando a lê-los porque tais pensam quase do mesmo jeito que eu, o vazio de Clarice e a excentricidade de Wilde. Adorei muito esse texto, tudo o que você escreve é ótimo.


    abraço


  4. [ rod ] ® Says:

    A espera desnorteia o ser na busca do novo e faz o viver na onda temerária do talvez. Li seu texto, meu caro, num dia tão comum quanto ao seu... hoje e, por certo, por anos vividos tenho a intensa certeza de que algo em mim muda... mas algo no eu aqui permanece o mesmo...

    isso assusta do ponto de vista de quem aqui só quer crescer.

    Abçs,







    Novo Dogma:
    ceGo...


    dogMas...
    dos atos, fatos e mitos...

    http://do-gmas.blogspot.com/


  5. Thiago Neves Says:

    Oi Vicente adorei seu post. Não se preocupe, o seu mal assola toda a humanidade nessa era pós-moderna. Freud já profetizava isso em O mal-estar da civilização, sentimos falta de um sentimento oceânico que nos invada e preencha as nossas múltiplas personalidades de algo concreto, algo real, algo sensivel, tátil. E a propósito, Oscar Wilde é um visionário, um leitor dessa almas contemporânes e Sheldon? Sem comentários... adorei esse livro.

    Thiago


  6. Conte-me seus sonhos foi um livro que me marcou. Muito louco...
    E ali é uma patologia, moço, doença mesmo. Acho que você não é exatamente parecido com aquilo. Risos.


    Beijo meu.


  7. Também sofro de distúrbio de personalidade mútipla. "Tell me Your Dreams", perfeito. Ter muitas personalidades é sinal de não ter personalidade alguma? Me pergunto isso e prefiro pensar que sou mesmo adaptável, flexível, errante e ainda tento acertar, agradar, caber. Prefiro pensar que sou reticências, e não ponto final. Me perco. Mas "perder também é caminho" Afinal...

    Adorei o texto Vicente. Já estava com saudade do seu blog =)


  8. Ana Carolina Says:

    Gostei bastante do texto! :)


  9. ex-amnésico Says:

    Com as impróprias desculpas de quem abandonou o contar do tempo faz tempo:

    Você não fica feliz a cada vez que a Primavera volta? Acredito que sim; mas, para que isso aconteça, é necessário que o Inverno aconteça.

    O que eu quero dizer é o seguinte: a vida é cíclica; há quem considere isso como algo "estático", sem "evolução" e prefira pensar no passar do tempo como uma linha reta cujo início nunca se encontra com o fim. Assim tem caminhado a Humanidade e temos visto por quais caminhos ela tem andando...

    Somos muitos, somos únicos, somos nada: que somos, afinal?

    Somos. Basta saber isso, para começar. O resto..., vem com a Vida.

    Ou eu estou viajando, efeito esperado de um texto que transpira vida!

    Abraço mnemônico de Ano Novo!