Critical Watcher
[Assim era ela: estatura mediana, cabelos pretos e compridos, olhos estarrecidos, boca débil, corpo quase que escultural... Usava sempre vestidos longos e esguios, denunciando sem intenção alguma as suas formas arredondadas e atraentes.]

Caminhando por aquela rua negrume, ela não cessava de chorar e de abraçar o seu próprio corpo. Por vezes, sem forças alguma pra continuar, parava em algum canto daquela vila e sentava-se. Sua tristeza era tão profunda e inquieta que até mesmo os mendigos e ladrões se comoviam diante dela. E toda noite, a lastimosa moça fazia o mesmo percurso, chorava o mesmo pranto, padecia do mesmo problema. Ela não tinha vergonha alguma em denotar seu sofrimento, ela não vigiava dentro de si o assombro que lhe passava em mente. Talvez fosse isso que a mantivesse de pé; talvez fosse a ausência do confinamento que lhe presenteasse com alguns dias a mais de vida.

Tudo era muito baseado no talvez, afinal ninguém sabia ao certo o que deveras ofendia tão amargamente aquela moça. Cada dia que se passava, a mágoa acirrava, a melancolia envaidecia, a aflição apossava. Chegava a suspirar uma dor física, expurgando em lágrimas o possível veneno que a corrompia. E ouviam-se gritos cada vez maiores, torturas cada vez mais mórbidas.

Corriam boatos na cidade sobre a personagem principal das noites escuras e silenciosas, que sempre quebrava o sossego que ali reinava. Dizia-se que, talvez, ela sofresse de alguma surdez ou algo parecido. Nunca ouvia as perguntas curiosas que os outros lhes lançavam. Nunca sequer deixou alguém tomar conhecimento da razão de seu infortúnio. E quanto mais pessoas apareciam, mais padecimento esvaía. As dúvidas não passavam de indiscrição dos outros, desfavorecendo sua expectativa de socorro ou lenimento.

E algo mudara completamente o quadro daquela situação. Agora o vento frio das madrugadas agravava o terror. O circo que se montava diariamente pra esperar pela causa dos risos insaciáveis transformava a dor em fúria. A agonia já não possuía o mesmo talento, pois o ódio lhe tomara o espaço. As lágrimas estancaram e deram lugar a olhos ressequidos e cheios de peçonha. A curiosidade foi arbitrariamente seguindo seu caminho em outra vereda, mas deixou marcas profundas na vida daquela menina que, antes, só sabia chorar.

[– Ninguém nunca me deu amparo. Nunca existiram abraços ou sorrisos que não fossem os de reprovação. A minha saída estava em meu pranto, nas poesias elegíacas que dele surgiam. E, hoje, tudo fica em mim. Toda a amargura que antes eu conseguia arremessar ao mundo, em mim fica guardada, depositada em formas desguarnecidas, em sentimentos que carregarei pro resto da vida.]

E ali mesmo deu seu último suspiro. O adeus que precisava pra poder, ao menos, lamentar em paz.

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Olá, pessoal. Antes de tudo, venho desculpar-me do afastamento que venho mantendo de meu blog. A questão é que meu tempo está cada vez mais escasso e é uma pena não poder estar desfrutando das pérolas que todos vocês criam. Gostaria, também, de mandar um forte abraço pra Jaya e pro Sr. Ziggy, que me presentearam com dois novos selos. Obrigado a vocês dois. É muito bom saber que tenho pessoas a me ajudar constantemente.







Aqui vão meus merecidos indicados:

Sede Devaneios, da Gi.

Fragmentos de Jô, da Jô.

Quintal de Cores, da Jú Caribé.

Ma Passion Rouge, da Gabriela.

Segundas Intenções, d[A] Bem Intencionada.

Parabéns. Beijos... ;)

17 Responses
  1. Anônimo Says:

    Eita! Coitada dela! Mas sabe o que eu acho? Todos nós somos um pouco assim. Carregamos em nós o que, por vários motivos, não queremos lançar ao mundo. O problema é que corrompe, envenena, mata. Como resolver, então? Quando descobrir, por favor me diga.

    (thanks pelos selos!)

    Beijos.


  2. Renato Ziggy Says:

    Quanto mais se alimenta a dor e/ou o ódio, mais estamos fadados à morte. É batata!

    Gostei muito da descrição e, de cara, ao ler-te, recordei-me do texto "Mulher ao Mar", que postei dias atrás.

    Parabéns pelos selos e abraço pra vc tb, meu caro! Inté!

    Zy


  3. J.S. Says:

    A verdade é q grande parte de nós vive remoendo dor...esse sangue romântico que corre em nossas veias causa disso...culto à dor...rs

    ah...um pouquinho atrasada mas...muito obrigada pelos selinhos...vindo de vc é uma honra...
    saudades
    beijo bem grande!!!


  4. Euzer Lopes Says:

    Continuo indignado de você chamar de críticas os comentários que recebe.
    Mesmo que existam críticas construtivas, eu prefiro chamá-las, portanto de elogios.
    E é isso que tenho a fazer sobre este texto da menina que só sabia chorar.
    Profundo, muito profundo.
    E foi inteiramente baseado em fatos totalmente reais, não?


  5. Says:

    Nossa... que texto mais triste... de uma tristeza tão bonita de deixar a gente cabisbaixo... adorei, menino, tanto o texto quanto os selos. Obrigadíssima. :)


  6. Gi Olmedo Says:

    Remoer traz úlcera... rs! Guardar faz mal, atrai tanta coisa ruim...
    Talvez por isso q eu tenho o habito de falar o que sinto e penso. Com jeitinho...

    Meu querido, fico muito feliz com seus presentes... vc nem imagina como isso me motiva.
    Mas, meu presente maior é ter sempre sua presença no meu blog. Fico lisongeada, sinceramente.

    Beijos, e logo postarei sobre os selos.


  7. Texto fortíssimo, profundo.

    A tristeza e a dor é um espinho que temos que carregar na mão, a diferença é que um dia deveremos nos livrar dele.

    Só não tacar esse espinho em qualquer canto, para acabar nao acertando quem a gente mais ama, ás vezes, direto no coração.

    Abçs!!!! E parabéns pelos selos.

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    http://emlinhas.blogspot.com/

    EM LINHAS...
    Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.

    Novo texto: Uma Chuva
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  8. bicho, obrigado pela visita lá no blog. fico surpreso quando alguém que não conheço passa por lá e gosta de alguma coisa.

    enfim, esse texto me lembrou ´´Mulher ao Mar´´, do Renato! mas a essência talvez seja outra. geralmente o adeus fica ligado ao fim... que é o que ta completo, pronto pra um novo começo. e a carga tão particular que cada um carrego consigo é algo valioso... culpar a si por não saber lidar com as coisas da vida talvez seja uma escolha de quinhão doloroso... mas geralmente, pra nossa tranquilidade essas lamentações são um blefe, mas ficam marcadas, isso é inegável.

    coisa boa te ler, também voltarei mais vezes.
    abraço.


  9. Unknown Says:

    Que menina!
    Têm coisas que ninguém pode ajudar a resolver. O jeito é ficarmos calados. Já passei por dias assim, em que saia por ai chorando, chorando.. Aff! Tudo passa.

    Sei lá.. Sentimentos estranhos.
    =~

    Pois é. Estás sumido mesmo daqui. O meu tempo vai ficar mais curto também... Ai, ai.

    Abraços, Critical Watcher!
    =]


  10. Marina! Says:

    Todos nós somos incasáveis lamentadores;
    A diferença é que uns gritam pra dentro,outros lançam lagrimas,alguns ainda descarregam no próximo;

    Huum,adorei (::)


  11. Nefelibata Says:

    Que triste! Escrevi um texto falando do contrário da sua menina, ainda não o postei. às vezes, também desaprendemos a chorar.

    Adoro seus textos.

    Beijosss


  12. O choro sempre foi minha forma mais sincera de desabafo. É necessário botarmos pra fora as dores, mágoas, incertezas, inseguranças, não? Às vezes, as palavras se tornam desnecessárias.

    Beijo meu.


  13. Luana! Says:

    Até as noites turvas têm as suas alegrias, como, então, nos impor dores e sofrimentos tão tremendos?
    Prefiro expurgá-los de vez, para que os choros não sirvam apenas de catarses esporádicas.

    Beijooooo


  14. [P] Says:

    Não gosto nem sequer de lembrar que, um dia, o choro, tal qual o dela, foi presença constante em minha vida, sabe?

    Vicente, brigada mais uma vez pelos presentes, viu? E desculpe a demora em aparecer - é que a falta de tempo baixou por aqui e não quer mais me abandonar :)

    Beijos.

    ps: "Eu quero uma mulher que seja assim". Eu ri um bocado com esta tua frase, sabia? E também exclamei um "ai, Vicente, você não sabe o que diz..." :)


  15. Gabriela. Says:

    Obrigada pelos mimos.

    E sinto mto, não tenho condições psicológicas pra falar desta tua moça.

    Ela me dói demais, quem sabe até por vezes me reflita.


  16. [P] Says:

    Não é possível!!

    Agora, sim... está explicada essa tua desenvoltura para expressar as coisas que os textos te fazem sentir. Só uma coisa: nem pensar em apresentar meu blog às mulheres que não beijam seus respectivos maridos em público, tá? :)

    =****


  17. i Says:

    A descrição é belíssima, tocante, muito boa. E bela imagem também, por sinal.