Caminhando por aquela rua negrume, ela não cessava de chorar e de abraçar o seu próprio corpo. Por vezes, sem forças alguma pra continuar, parava em algum canto daquela vila e sentava-se. Sua tristeza era tão profunda e inquieta que até mesmo os mendigos e ladrões se comoviam diante dela. E toda noite, a lastimosa moça fazia o mesmo percurso, chorava o mesmo pranto, padecia do mesmo problema. Ela não tinha vergonha alguma em denotar seu sofrimento, ela não vigiava dentro de si o assombro que lhe passava em mente. Talvez fosse isso que a mantivesse de pé; talvez fosse a ausência do confinamento que lhe presenteasse com alguns dias a mais de vida.
Tudo era muito baseado no talvez, afinal ninguém sabia ao certo o que deveras ofendia tão amargamente aquela moça. Cada dia que se passava, a mágoa acirrava, a melancolia envaidecia, a aflição apossava. Chegava a suspirar uma dor física, expurgando em lágrimas o possível veneno que a corrompia. E ouviam-se gritos cada vez maiores, torturas cada vez mais mórbidas.
Corriam boatos na cidade sobre a personagem principal das noites escuras e silenciosas, que sempre quebrava o sossego que ali reinava. Dizia-se que, talvez, ela sofresse de alguma surdez ou algo parecido. Nunca ouvia as perguntas curiosas que os outros lhes lançavam. Nunca sequer deixou alguém tomar conhecimento da razão de seu infortúnio. E quanto mais pessoas apareciam, mais padecimento esvaía. As dúvidas não passavam de indiscrição dos outros, desfavorecendo sua expectativa de socorro ou lenimento.
E algo mudara completamente o quadro daquela situação. Agora o vento frio das madrugadas agravava o terror. O circo que se montava diariamente pra esperar pela causa dos risos insaciáveis transformava a dor em fúria. A agonia já não possuía o mesmo talento, pois o ódio lhe tomara o espaço. As lágrimas estancaram e deram lugar a olhos ressequidos e cheios de peçonha. A curiosidade foi arbitrariamente seguindo seu caminho em outra vereda, mas deixou marcas profundas na vida daquela menina que, antes, só sabia chorar.
[– Ninguém nunca me deu amparo. Nunca existiram abraços ou sorrisos que não fossem os de reprovação. A minha saída estava em meu pranto, nas poesias elegíacas que dele surgiam. E, hoje, tudo fica em mim. Toda a amargura que antes eu conseguia arremessar ao mundo, em mim fica guardada, depositada em formas desguarnecidas, em sentimentos que carregarei pro resto da vida.]
E ali mesmo deu seu último suspiro. O adeus que precisava pra poder, ao menos, lamentar em paz.
Olá, pessoal. Antes de tudo, venho desculpar-me do afastamento que venho mantendo de meu blog. A questão é que meu tempo está cada vez mais escasso e é uma pena não poder estar desfrutando das pérolas que todos vocês criam. Gostaria, também, de mandar um forte abraço pra Jaya e pro Sr. Ziggy, que me presentearam com dois novos selos. Obrigado a vocês dois. É muito bom saber que tenho pessoas a me ajudar constantemente.
Aqui vão meus merecidos indicados:
Sede Devaneios, da Gi.
Fragmentos de Jô, da Jô.
Quintal de Cores, da Jú Caribé.
Ma Passion Rouge, da Gabriela.
Segundas Intenções, d[A] Bem Intencionada.
Parabéns. Beijos... ;)
Eita! Coitada dela! Mas sabe o que eu acho? Todos nós somos um pouco assim. Carregamos em nós o que, por vários motivos, não queremos lançar ao mundo. O problema é que corrompe, envenena, mata. Como resolver, então? Quando descobrir, por favor me diga.
(thanks pelos selos!)
Beijos.
Quanto mais se alimenta a dor e/ou o ódio, mais estamos fadados à morte. É batata!
Gostei muito da descrição e, de cara, ao ler-te, recordei-me do texto "Mulher ao Mar", que postei dias atrás.
Parabéns pelos selos e abraço pra vc tb, meu caro! Inté!
Zy
A verdade é q grande parte de nós vive remoendo dor...esse sangue romântico que corre em nossas veias causa disso...culto à dor...rs
ah...um pouquinho atrasada mas...muito obrigada pelos selinhos...vindo de vc é uma honra...
saudades
beijo bem grande!!!
Continuo indignado de você chamar de críticas os comentários que recebe.
Mesmo que existam críticas construtivas, eu prefiro chamá-las, portanto de elogios.
E é isso que tenho a fazer sobre este texto da menina que só sabia chorar.
Profundo, muito profundo.
E foi inteiramente baseado em fatos totalmente reais, não?
Nossa... que texto mais triste... de uma tristeza tão bonita de deixar a gente cabisbaixo... adorei, menino, tanto o texto quanto os selos. Obrigadíssima. :)
Remoer traz úlcera... rs! Guardar faz mal, atrai tanta coisa ruim...
Talvez por isso q eu tenho o habito de falar o que sinto e penso. Com jeitinho...
Meu querido, fico muito feliz com seus presentes... vc nem imagina como isso me motiva.
Mas, meu presente maior é ter sempre sua presença no meu blog. Fico lisongeada, sinceramente.
Beijos, e logo postarei sobre os selos.
Texto fortíssimo, profundo.
A tristeza e a dor é um espinho que temos que carregar na mão, a diferença é que um dia deveremos nos livrar dele.
Só não tacar esse espinho em qualquer canto, para acabar nao acertando quem a gente mais ama, ás vezes, direto no coração.
Abçs!!!! E parabéns pelos selos.
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http://emlinhas.blogspot.com/
EM LINHAS...
Quando as palavras se tornam o nosso mais precioso divã.
Novo texto: Uma Chuva
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bicho, obrigado pela visita lá no blog. fico surpreso quando alguém que não conheço passa por lá e gosta de alguma coisa.
enfim, esse texto me lembrou ´´Mulher ao Mar´´, do Renato! mas a essência talvez seja outra. geralmente o adeus fica ligado ao fim... que é o que ta completo, pronto pra um novo começo. e a carga tão particular que cada um carrego consigo é algo valioso... culpar a si por não saber lidar com as coisas da vida talvez seja uma escolha de quinhão doloroso... mas geralmente, pra nossa tranquilidade essas lamentações são um blefe, mas ficam marcadas, isso é inegável.
coisa boa te ler, também voltarei mais vezes.
abraço.
Que menina!
Têm coisas que ninguém pode ajudar a resolver. O jeito é ficarmos calados. Já passei por dias assim, em que saia por ai chorando, chorando.. Aff! Tudo passa.
Sei lá.. Sentimentos estranhos.
=~
Pois é. Estás sumido mesmo daqui. O meu tempo vai ficar mais curto também... Ai, ai.
Abraços, Critical Watcher!
=]
Todos nós somos incasáveis lamentadores;
A diferença é que uns gritam pra dentro,outros lançam lagrimas,alguns ainda descarregam no próximo;
Huum,adorei (::)
Que triste! Escrevi um texto falando do contrário da sua menina, ainda não o postei. às vezes, também desaprendemos a chorar.
Adoro seus textos.
Beijosss
O choro sempre foi minha forma mais sincera de desabafo. É necessário botarmos pra fora as dores, mágoas, incertezas, inseguranças, não? Às vezes, as palavras se tornam desnecessárias.
Beijo meu.
Até as noites turvas têm as suas alegrias, como, então, nos impor dores e sofrimentos tão tremendos?
Prefiro expurgá-los de vez, para que os choros não sirvam apenas de catarses esporádicas.
Beijooooo
Não gosto nem sequer de lembrar que, um dia, o choro, tal qual o dela, foi presença constante em minha vida, sabe?
Vicente, brigada mais uma vez pelos presentes, viu? E desculpe a demora em aparecer - é que a falta de tempo baixou por aqui e não quer mais me abandonar :)
Beijos.
ps: "Eu quero uma mulher que seja assim". Eu ri um bocado com esta tua frase, sabia? E também exclamei um "ai, Vicente, você não sabe o que diz..." :)
Obrigada pelos mimos.
E sinto mto, não tenho condições psicológicas pra falar desta tua moça.
Ela me dói demais, quem sabe até por vezes me reflita.
Não é possível!!
Agora, sim... está explicada essa tua desenvoltura para expressar as coisas que os textos te fazem sentir. Só uma coisa: nem pensar em apresentar meu blog às mulheres que não beijam seus respectivos maridos em público, tá? :)
=****
A descrição é belíssima, tocante, muito boa. E bela imagem também, por sinal.