Tic Tac...Tic Tac Tic Tac Tic Tac...O relógio não pára.
Eu só consigo ver horas e minutos, que passam por mim numa louca velocidade.
Passam como se não quisessem me dar tempo pra pensar. Como se eu houvesse perdido aquele amigo de longas jornadas.
Tic Tac... - Por que você insiste nesse martírio?
- Onde foram parar as minhas asas?
Minutos ganham força a cada novo segundo...
E as horas são mais destruidoras que os tormentos da neblina dessa triste manhã.
Ah, náufrago do tempo.
Como sinto saudades de você!
Me abandonaste, sem sequer um adeus.
Tic Tac... Tic Tac... Tic Tac...E tudo vai correndo.
Se esvai entre minhas mãos a fé que eu lhe dei.
Não ouço mais sua voz, a não ser o triste eco que entorpece meus movimentos...
Fica aqui o nosso adeus. Fui desamparado por aquele que guiava meus passos. Aflige-me a sua ausência.
Tic Tac.Tic Tac.Tic Tic Tic Tun Tuun Tuuuun!
O relógio parou.
Esse texto eu já havia postado há alguns dias, no entanto, em outro blog. Talvez esse seja um dos textos que mais trazem à tona o sentimento de indignação diante da realidade nua e crua à qual estamos submetidos. Eis:
"Cores brilhantes e amarelas. Estou constantemente a vê-las. Pescoços felizes são, diariamente, iluminados por sua suposta beleza. Dedos limpos, bem cuidados. Lá estão eles, todos os dias com a mesma função. O tempo passa e nada os muda. São apreciados em essência... Bastou-me fechar os olhos. Uma realidade começa a se despir defronte minhas mãos imóveis. O choro. A criança. A fome. O desespero materno. Continuo atentamente a observar. Como que antagonicamente, as cores perdem o brilho reverenciado. O feliz não enxerga o triste. O insatisfeito com seus quilos a mais opõe-se ao pai desesperado. E nada muda. Uma família parece perder mais um. Mais um grito de piedade. Aflição, medo, cólera. Os sinos tocam e as luzes apagam-se. Dividem-se as imagens. Vejo de um lado aquele brilho renascer. Do outro, escuridão. Vejo o ouro cintilante palpitar nos corações dos que esquecem a realidade humana. O meio os transformou. São cegos e surdos - sem atitude alguma... E nós aqui estamos. Sorrisos perfeitos, estômagos fartos, bocas molhadas... Carro na porta, bom emprego, dinheiro no bolso. Não poderiam faltar também risos ao vento e a felicidade estampada. E não muito longe, escuto o choro de mais uma família, onde pessoas morrem e a escassez apropria-se da vida. O temor atinge o ápice de sua satisfação. Destrói amargamente a fragilidade esquecida...
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Mas de tudo, o mais lastimável é saber que outra noite chega a transcorrer normalmente aos olhos dos que conseguem descansar sobre o seu conforto incomum e tão restrito."