Critical Watcher

Existe algo mais chato do que milhões de provas em uma semana que não se tem nem tempo de revisar matéria? Existe algo tão repetitivo quanto o iô-iô que vai e vem sem parar ou o brinquedo de bate-bate a zunir nos ouvidos? E as buzinas dos carros com motoristas estressados a buzinar, porque sua mãe ainda não tem plena experiência no ato de dirigir? E os comentários daquele aluno chato que tirou dez e te pergunta quanto foi sua nota para poder sentir-se melhor?

Eu juro que achava que não existia nada pior que isso. Vejam bem: ACHAVA. O fato é que a minha vida virou um tormento, desde o momento que minha mãe cogitou a possibilidade de se fazer um rebaixamento de GESSO em meu apartamento. A priore, tudo é motivo de ânimo, renovação, conforto visual e atualização. Mas a procura por SANCAS modernas, a escolha das melhores tintas e cores adequadas, a internet e o computador cheios e sem-saco pra tantas fotos; e os SPOTS: brancos, prateados, circulares ou quadrados?, etc, tudo me irritou de um jeito que já não agüento mais respirar os ares de meu “lar-doce-lar”.

Falando em respirar, acho que esse pó branco (PERTURBADOR, INCESSANTE, SUJO, CORTANTE e outros adjetivos ruins que não me lembro de já ter dito) trouxe-me de presente uma dor na garganta que não quer passar, olhos sempre irritados, e micro-cortes nos dedos, além, é claro, dos lábios deveras machucados e ressequidos. Acreditem: a cada cinco minutos, tudo que estava limpo fica sujo novamente, sobre sua pele você percebe pequenas partículas de pó se acumulando. E você limpa, mas eles voltam e voltam e voltam...

Sinceramente, NADA me estressou tanto quanto isso. Já tentei sair, visitar amigos, almoçar fora, ir ao Parque das Dunas nos finais de semana, festejar aniversários, etc, etc, etc... Mas esse pequeno inferno não passa. Acabo, dessa forma, me isolando do resto da casa, porque finalmente meu quarto foi terminado hoje (o que não significa que o pó pare de circular por aqui). Eis, então, que jogo tudo pros ares, colchas de cama, lençóis, travesseiros; limpo tudo, bem superficialmente, e tento fugir de qualquer coisa que esteja do lado de fora de minha porta, abstendo-me, inclusive, do contato familiar, pois essa seria uma porta de entrada para um turbilhão de novas partículas malditas.

Tudo é muito branco, tudo é muito nevoado, mas a certeza de que eu estou conseguindo escapar desse sofrimento me fez ter tempo suficiente pra vir aqui e avisar a todos que pensem muito bem antes de uma escolha dessas, mesmo que o resultado do trabalho, assim como está sendo aqui, seja "agradabilíssimo".

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E minhas férias estão quase terminando, indo embora todos os meus desejos de que estivessem a começar a partir de agora.