Critical Watcher
Sento-me naquela poltrona defronte àqueles retratos que tiramos juntos no ano passado. Por um instante impetuoso, sinto cada cena vivida transcorrer perante meus olhos... Sob aquela situação conveniente, é involuntário o sorriso disfarçado que ilumina meu rosto, quando penso em você. Lá fora, a chuva ainda ecoante derrama em abundância a matéria-prima do produto de meu lacrimejar. A água salgada e tranqüila flui de meus olhos, irrigando minha alma e encantando meu coração. A limpeza brota no meu âmago, perpetuando cada paixão e sentido de viver ao seu lado. Na lareira, o fogo manifesta-se com resplendor, divagando cores e sombras que me fazem refletir... Não mais vejo motivos em estar parado. O meu equilíbrio sempre foi motivo de perdas interessantes e, a ausência dele, alguns poucos ganhos. Levanto-me calmamente e deixo que meu corpo dance cada som que germina de toda essa jovialidade incomum. Passos largos e rodopios desconhecidos se confundem com uma espécie de ensaio programado. Sobre o chão gélido, figuras e vestígios opacos são desenhados, transformando todo o ambiente de contemplação num palco de teatro, onde eu e unicamente eu somos o elenco e a platéia... Enfrentando as leis da física e outras mais que devo desconhecer, declaro na mecânica que me é presente a força de minha autonomia. A imunidade se apossa por completo de minha essência que, atrevidamente, me faz temeroso. Dá-me o desejo e desperta minha indiscrição. Cura minha alma e ensina-me o caminho tortuoso. Apaga meus medos e rejuvenesce outros. E é assim que vou me sentindo existente, quando tenho a certeza de que vivo e sinto o viver. É assim que, de uma maneira quase inconsciente, deixo meu espírito falar mais alto e clamar pelo êxtase que cada gota de suor representa. A dança, o som que persevera lá fora, a ablução de minhas falhas, o sublime fato de apenas pensar em você... Sentir sua voz, mesmo quando não existam sons. Acalmar o seu espírito, mesmo que a uma distância imensurável. Tocar o seu corpo, mesmo que a matéria não exista... Fazer-te sempre lembrar que transfiguras a simples imagem daquele porta-retrato tão empoeirado e cansado de minha presença a reverenciá-lo, pois dias e noites se vão e aqui estou eu, mais uma vez, ao seu encontro.
Critical Watcher
E mesmo quando criança
Vivendo um mundo quase feliz
De risos incontidos, apitos e cantos
Nós estivemos ali

Amadurecidos e com novos ideais
Caminhos trilhados e rumos diferentes
Mesmo amando-se a essa distância
Ainda assim, estivemos ali

Experiências trocadas por meio de palavras
Abraços nunca sentidos pelo vento que soprava
Beijos desejosos que despertaram ânsia
E que nunca negaram que estivemos ali

Estivemos num só corpo e num só espírito
E, ainda assim, sob um mesmo céu estrelado
Na noite escura que ousava em me impor silêncio
No correr de dias que não fluíam como eu desejava
Sim, nós também estivemos ali

Mesmo que em vidas paralelas
E não tão distantes entre si
Existe um imenso vazio
Que de mim quer fugir

E continuo amando como sempre amei
Talvez até mais do que antes
Talvez acreditando que exista um ponto de encontro
Sonhando demais e esquecendo outros planos

A saída é experimentar a resposta do tempo
Mas, meu amor, ele sempre registra marcas
Ele nem sempre é agradável com todos
Desmascara sonhos ou os faz reais

Quero eternamente ser um Clássico em sua vida
Estar entre as páginas preferidas de seu diário
Ser amado mesmo que entre outros amores
E amar mesmo que eu não deva mais

Porque eu sinto que pra sempre vou estar aqui.
Sinto estar aqui, ali, mais adiante, no horizonte... em você!